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O Pedro, que é um homem da cultura, reagiu contra os filisteus (de direita) por causa da polémica dos cortes (que afinal já não são) aos subsídios a artistas independentes. Julgo que consigo identificar a classe a quem o Pedro se dirige e percebo perfeitamente o seu incómodo. Mas há mais vida para além da «direita dogmaticamente liberal» e da «esquerda analfabeta» no universo daqueles que questionam a política de apoios do Ministério da Cultura. Eu, que, sim senhora, também defendo o modelo do mecenato (embora reconheça que não é um modelo perfeito e que a sua implementação prática não é tão fácil quanto a sua formulação teórica), percebo o tom de algumas críticas e não são tão rápido a declarar qualquer manifestação de dúvida como «ódio à cultura». A cultura, quando fica em circuito fechado - isto é, quando o universo consumidor se funde quase totalmente com o universo criador - perde grande parte da sua razão de ser, e não é difícil encontrar manifestações culturais culpadas desse pecado. Uma coisa é uma companhia de teatro que vai representar Beckett a Aljustrel, outra é o «criador» que nunca saiu do Bairro Alto e que reclama a mensalidade para espalhar cascas de ovo partidas no chão da galeria com uma legenda a dizer «A CRIAÇÃO DO MUNDO». A «cultura», como tudo, não pode ficar refém dos caprichos daqueles que a produzem, tem de existir, em algum momento, um diálogo qualquer com o resto do mundo. A ideia não é acabar de vez com tudo o que não dê lucro, é acabar de vez com tudo o que não agradece a atenção
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