terça-feira, 13 de julho de 2010

Eu, Taberneiro, Me Confesso

Artigo de Rodrigo Adão da Fonseca
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Tenho alguma dificuldade em perceber o newspeak do Pedro Mexia, que não vê contradição em chamar “independentes” a artistas que vivem maioritariamente de subsídios estatais. Não haja confusões, não tenho qualquer “ódio à cultura”, e se dependessem de pessoas como eu, as actividades ditas culturais em Portugal dariam tendencialmente lucro: não me considerando um “homem de letras”, e muito menos um “intelectual”, para o meu nível de rendimento sou um grande consumidor de todo o tipo de oferta cultural, livros, discos, revistas, arte contemporânea, antiguidades, objectos de design, espectáculos.
Um artista, para poder qualificar para um subsídio, tem de conformar a sua produção à obediência de critérios definidos por quem concede as verbas, e sujeitar-se ao crivo da aprovação, tantas vezes dependente da pertença a cliques ou da promoção de supostas bandeiras. Se num quadro com estas características o Pedro Mexia e quem ele defende precisam de se sentir “independentes”, que assim seja. Não é caso porém para qualificar de “tontos, taberneiros, filisteus, analfabetos” os que têm dificuldade – certamente por limitações intelectuais – em compreender tal semântica. Até porque são estes “tontos, taberneiros, filisteus, analfabetos“ que os sustentam; certamente “tontos, taberneiros, filisteus, analfabetos“ porque, para lá do trabalho e das obrigações familiares, não lhes sobra muito tempo para se tornarem em seres iluminados, capazes de qualificar para a subsidiodependência.

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