Artigo de José Pacheco Pereira
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Olhando para os encontros dos “artistas” que venceram a Ministra encontramos um dos mundos menos conhecidos e escrutinados da vida pública portuguesa. Porém, existe uma relação directa entre a ausência de escrutínio do seu trabalho e a capacidade que têm de influenciar os media a favor das suas causas, quer porque o seu lugar é central em certas “indústrias culturais”, a que os media estão associados, quer pelo preconceito da intangibilidade da “cultura”, da “criação”, da “arte”.Este mundo funciona em circuito fechado, e desconhece-se que critérios presidem ao seu funcionamento e como são verificados os resultados dessa aplicação do dinheiro dos contribuintes. Sabe-se que não é pelo interesse do público, visto que estes ramos de “cultura” e “arte” abominam tal critério vulgar, de serem avaliados, entre outras coisas, pelo interesse que suscita o seu trabalho pelo comum dos portugueses.É verdade que a verba que gastam do erário público não é elevada, mas é dinheiro dos contribuintes que tem direito de saber onde e com quem é gasta. Os grupos de “artistas”, principalmente na área do teatro e da “performance”, empregam um número significativo de pessoas, cuja trabalho individual é desconhecido e não avaliado. São “artistas” e como se auto-classificam como tal, quase tudo lhes é permitido, e respondem com enorme arrogância a qualquer avaliação.Organizados em várias “plataformas”, Plataforma do Teatro, das Artes Plásticas, do Cinema, a que se juntaram a Associação Portuguesa de Realizadores, da Plataforma do Cinema, a Plateia - Associação dos Profissionais de Artes Cénicas e a REDE - Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, representam uma miríade de grupos cuja existência pública é quase ignorada se exceptuarmos alguns realizadores de cinema, o Teatro da Comuna, o Teatro da Cornucópia, e os Artistas Unidos. A REDE “reúne 26 estruturas transdisciplinares e de dança contemporânea” e a Plateia “agrega cerca de 70 profissionais e 20 estruturas do norte de Portugal, maioritariamente da Zona Metropolitana do Porto, das áreas do teatro e dança”. Só a Plataforma do Teatro inclui a Ar de Filmes, Barba Azul, Casa Conveniente, Chão de Oliva, Joana Teatro, KARNART C. P. O. A., A Mala Voadora, Mundo Perfeito, O Bando, Plateia, Primeiros Sintomas, Qatrel, Teatro da Garagem, Teatro da Rainha, Teatro do Vestido, Teatro dos Aloés e o Útero.
Tanto “artista”, tanto “criador”, que nós temos por metro quadrado! O modo como se apresentam tem toda a prosápia burocrática e cultural. O Teatro do Vestido quer com ousadia “criar uma dramaturgia original” para o que constituiu “uma equipa multidisciplinar, que aposta numa forte relação com os espaços de apresentação, valorizando-os, bem como numa relação de partilha com o público”. A Casa Conveniente explica-nos que no seu “espaço” no Cais do Sodré “todos têm os seus lugares: bares, prostitutas, clientes, actores, actrizes, espectadores – todos coexistem sem se misturarem, marcando diferenças e aceitando vizinhanças e influências.”. Uma coisa chamada KARNART C. P. O. A., (“Criação e Produção de Objectos Artísticos, explica-nos que a dita é “uma associação privada sem fins lucrativos (...) tem por objectivo aliar aos valores teatrais clássicos vertentes artísticas de outras áreas na criação de objectos de grande dimensão estética e forte impacto interventivo, quer do ponto de vista antropológico quer do ponto de vista sociológico (...) Valores tradicionais em vias de extinção, minorias sociais, direitos de animais, problemas ambientais, religiões e seitas, globalização, etc., são algumas das temáticas que ao colectivo interessa abordar numa perspectiva de arte interventiva e interactiva”. E por aí adiante.Este bla-bla do “culturalês” é como o “politiquês” e o “eduquês”, mas ninguém lhe toca. Só faltava tratar os “artistas” como gente vulgar!
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