Artigo de Ferreira Fernandes
Não vou discutir a bondade das diretivas, quero é sublinhar o cuidado extremoso da União Europeia com os seus cidadãos. Debruçam-se ao pormenor (tipificam os galheteiros), formam-nos a consciência ecológica (interditam estradas por onde passam musaranhos), fortificam-nos a compaixão (torcem o nariz à matança do porco) e denunciam o bronzear das bolas-de-berlim nas praias. Enfim, um cuidado de legislar até questões de caca: ainda no ano passado quiseram padronizar os autoclismos europeus - moeda única, uma só descarga - para que pelo menos de cócoras sejamos todos iguais do Minho à Vestefália. Repito, não julgo, só assinalo o cuidado. Ora, no dia seguinte ao abate do avião malaio, as companhias de aviação perguntaram à Eurocontrol, a agência de segurança do tráfego aéreo europeu (à qual a UE aderiu): "Podemos voar sobre a Ucrânia?", a Eurocontrol respondeu: "Todas as rotas fechadas são perigosas. Consideramos seguras as áreas não fechadas, mas a decisão de sobrevoar a Ucrânia só as companhias podem tomar..." Já vi musaranhos mais firmemente protegidos. Quando avião malaio passou na Ucrânia Oriental, a zona estava fechada só abaixo dos 32 mil pés e o avião ia 33 mil (uma diferença de cerca de 300 metros) acima - e deu no que deu. Eu esperava, habituado ao zelo que a UE me tem ensinado, que a diretiva fosse outra: "As companhias decidem o que quiserem, mas os administradores serão internados como malucos."
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