O FMI fez um relatório a colocar em causa a intervenção na Grécia. O que lá está escrito coloca também em causa a intervenção em Portugal, muito embora os técnicos da organização afirmem que, se voltassem atrás, com as mesmas informações de que então dispunham, teriam feito o mesmo.
Eu acredito na sinceridade desta afirmação. E acredito que os Governos da Grécia e de Portugal, da Alemanha e da França, da Itália e da Espanha teriam feito o mesmo. Porque, na realidade, todos eles (e todos nós) andam a discutir uma crise que, no essencial, não conhecem.
Esquematicamente, a ideia poderia ser: determinados países, escorados pelas taxas de juro baixíssimas, possibilitadas pelo Euro, endividaram-se de mais. Têm, pois, como primeiro dever, combater esse défice excessivo através da austeridade.
Como o défice se mede em percentagem do PIB - e mais uma vez esquematica e simplisticamente - abrem-se duas perspetivas: a de direita (que entre nós se chama neo-liberal), que é reduzir a despesa para baixar a dívida; e a de esquerda (que entre nós se chama crescimento) que é a de produzir mais para que o PIB aumente e, assim, o peso percentual da dívida desça.
Qualquer das soluções é muito boa numa folha de Excel. O diabo é que não funcionam. Nem se consegue diminuir a dívida cortando na despesa; nem se consegue aumentar o PIB em lado nenhum da Europa, mesmo quando é a esquerda a comandar.
Na dúvida, culpa-se a Alemanha. Mas a Alemanha já está com crescimento negativo (0,3%), pelo que se culpa ainda mais a Alemanha e todos os alemães.
Curiosamente, o que temos debaixo do nosso nariz são estes dados: a única coisa que aumenta, salvo raras exceções, é o desemprego; a única coisa que baixa, salvo outras raras exceções, é a taxa de natalidade.
E chego ao meu ponto (também não tendo solução): Talvez o problema não esteja nas receitas, seja nas de esquerda, seja nas de direita, mas sim no diagnóstico.
Alguém está sinceramente convencido de que esta crise é igual às outras? É que eu não estou. Eu penso que esta crise, sendo de modelo, e levando a Europa para um patamar diferente, não se resolve com as receitas tradicionais. É na procura de uma solução nova, seja por via de um novo contrato político, seja por via de um novo contrato social (e contrato significa que tem de haver acordo entre as partes) que podemos começar a ultrapassar a crise.
Como para quase tudo, a primeira coisa a fazer é compreender onde estamos e para onde vamos. Ora, sobre isso nem há qualquer discussão séria, quanto mais acordo, A capa da revista The Economist há duas semanas mostrava os líderes europeus a caminho do abismo e tinha como título "Os sonâmbulos". Ora aí têm!
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