Teixeira dos Santos, ministro das Finanças de José Sócrates, recusa ter traído o ex-primeiro-ministro quando anunciou que o Governo iria ter de pedir ajuda externa em Abril de 2011, pois "seria humilhante para Portugal ir ao Conselho Europeu em Budapeste, "levar um puxão de orelhas", e assumir um compromisso para um resgate.
"Falar em traição é excessivo. Aquilo que achava transmiti com toda a lealdade. O primeiro-ministro sabia o que eu pensava. Com certeza que me ouvia. Não quero ter a vaidade de ter sido eu a dar o empurrão ao primeiro-ministro [em relação ao pedido de ajuda]", afirmou Teixeira dos Santos, em entrevista à TVI, relembrando os últimos episódios antes o Governo a solicitar ajuda externa.
"Foram dias muito difíceis, de muita tensão, vividos com muita preocupação. Ficou muito claro no início de Abril [de 2011], quando a Moodys cortou o ‘rating' de Portugal e dias depois surgiram cortes de ‘rating' à banca. Estávamos a dificultar à banca o acesso ao financiamento para a economia", contou o antigo responsável pela pasta das Finanças.
Segundo Teixeira dos Santos, nesta fase, Sócrates mostrava resistência em relação ao pedido de ajuda porque "tinha uma clara percepção do que isto iria representar para o país". "O primeiro-ministro tinha consciência das dificuldades do país. E tendo a percepção das consequências com um pedido de ajuda, resistiu o mais que pode. Mas creio que já estava convencido de que não valia a pena estar a resistir mais", relembrou.
O ex-ministro diz, contudo, que o pedido teria sido evitado caso o PEC IV tivesse sido aprovado. "Com o PEC IV teríamos o apoio do BCE, dos mercados secundários de dívida e da Alemanha. Foi claro o compromisso de Merkel em Março de 2011, de que Portugal seria o tampão da crise. Ficou aí combinado com este programa que estava a ser delineado em Lisboa", recordou.
E lembra que Merkel pediu então a Sócrates que falasse com o FMI. "Mas Sócrates recusou falar com o FMI por incompatibilidade política. E então disse-lhe eu: Se tu não falas, falo eu com o FMI", disse, assegurando que nunca lhe faltou o apoio político de Sócrates durante a elaboração do Orçamento de Estado para 2011 e do PEC IV.
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