terça-feira, 6 de março de 2018

Uma Camisa Para Vénus

Sérgio Barreto Costa no Blasfémias

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Não sei ao certo há quanto tempo conheço a senhora desta fotografia. É possível que tenha contactado com ela pela primeira vez em 1989, no livro de História do 7º ano, mas também me pode ter sido anteriormente apresentada pelo meu pai, quando folheava comigo aquelas Histórias da Arte em fascículos que gostava de coleccionar e que, por essa altura, ocupavam as estantes de muitos lares portugueses. Numa época em que os pais já não tinham o hábito de levar os filhos varões a casas onde se desenvolve o comércio amoroso, foi com certeza uma maneira familiarmente interessante de ir, quase literalmente, aos primórdios da questão.


Aparentemente, e de acordo com uma notícia que li num jornal estrangeiro, o Facebook não gostou que um retrato desta escultura, exposta num museu de Viena, tivesse sido publicado na rede social. E vai daí, sem meias medidas, censurou-o com a classificação de “conteúdo impróprio”. Faço notar, antes de mais, que, ao contrário do que se passa em Portugal, os estrangeiros limitam-se a dizer Viena, sem acrescentar o país a que pertence, pelo que fiquei sem saber se o dito museu se encontra na Áustria ou no estado norte-americano do Missouri, que tem uma pequena povoação com o mesmo nome. Mas o que verdadeiramente me surpreendeu foi a atitude da empresa de Mark Zuckerberg, retirando dos seus domínios esta vénus pré-histórica. Como não quero acreditar que um empreendedor nova-iorquino do séc. XXI seja mais conservador do que o Ministério da Educação e as famílias portuguesas dos anos 80, tenho de concluir que foi o aspecto da matriarca que lhe desagradou. É certo que a sua forma física não é a melhor, com alguma gordura localizada na área abdominal e com as glândulas mamárias ligeiramente descaídas. No entanto, se levarmos em consideração que a senhora tem quase 30 mil anos, temos de concluir que até está muito bem conservada. Tomara a muitas bem mais novas! Pode não servir para as páginas da Victoria’s Secret e da Playboy que o Facebook desinteressadamente alberga, mas talvez ainda conseguisse sacar três ou quatro matches no Tinder às 4 da manhã de uma noite de sábado. Fica a dica para a minha velha amiga.





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