Pode um ditador matar milhares de pessoas, prender e torturar outras tantas, negar ao povo o direito de escolher o seu destino e até de emigrar e, ainda assim, receber elogios? Depende, se for um ditador de Direita é óbvio que não, mas se for um Ditador de Esquerda, é claro que sim, pois, na verdade, não existem Ditadores de Esquerda.
Como pode a Esquerda, que só deseja o bem universal, o amor e a paz, produzir assassinos e sádicos? Não pode, não senhor, essas abomináveis características só existem entre os carniceiros da Direita. Portanto, fuzilar um ser humano por delito de opinião, esmagar-lhe os testículos ou tão só submetê-lo a choques eléctricos, isso é plenamente justificável pois que interessa uma miserável vida humana em favor do interesse comum?
Passados mais de quarenta anos após o derrube da ditadura de Salazar, o PS, o PCP, o BE – esses grandes defensores da liberdade - e a maior parte do PSD, prestaram homenagem a Fidel Castro, revelando assim um total desprezo pelas suas vítimas, pelos direitos humanos e pela democracia.
Em 2003, o próprio José Saramago rompeu com o regime castrista após o fuzilamento de três cubanos que haviam desviado um barco para alcançarem Miami, mas, os partidos que nos governam, juntando-se ao coro o Presidente Marcelo e o ex-presidente Sampaio, não conseguem sequer aproximar-se de uma condenação da ditadura.
Do PCP, que não denunciou as matanças de Estaline (chama-lhe ‘’desvios, como Le Pen pai chamava ‘’pormenor’’ ao Holocausto) e que apoia o regime da Coreia do Norte onde perto de um milhão de pessoas já morreu à fome, o elogio à ditadura é coerente. Do BE, que apoia o regime venezuelano onde há presos políticos e, também, os cidadãos começam a morrer à fome, também não surpreende o amor ao totalitarismo; que apregoem a defesa das minorias sexuais e depois fechem os olhos à repressão imposta por Cuba aos homossexuais, como a perseguição ao escritor Reynaldo Arenas bem demonstrou, isso não lhes tira o sono – a coerência de princípios não é o forte do BE. Mas que partidos como o PS e PSD se juntem à trupe dos apoiantes do totalitarismo, tal já demonstra que a nossa democracia está doente.
Para qualquer cidadão que acredita da democracia e nos direitos humanos não existem ditaduras boas e más, assassinos piedosos e maléficos, vítimas justificáveis e vítimas tão só. Não existem igualmente justificações sociais ou económicas que legitimem a ditadura – a saúde e a educação cubana -, pois, se esse for o caminho escolhido, pode-se facilmente chegar à conclusão que Pinochet, devido ao crescimento económico do Chile, era um santo.
Afinal, foi entre 1950 e 1973 que Portugal teve o maior crescimento económico. Merecem, pois, Salazar e Caetano elogios?
Por tudo isto, apenas posso agradecer a Fidel Castro por nos ter mostrado, sem margem para dúvida, que a nossa Esquerda (onde o PSD deve ser incluído), essa campeã dos direitos humanos, da liberdade, dos desfavorecidos e das minorias étnicas, religiosas e sexuais, não acredita, afinal, nesses valores. Produz, sim, um discurso politicamente correcto para contentamento dos eleitores e gáudio de intelectuais que admiram o Comunismo a partir do conforto Capitalista, mas, na hora da verdade, mostram a sua verdade face: admiradores da tirania, desde que embrulhada na manta rota do Socialismo.
E esse foi o ‘’azar’’ de Salazar e Caetano – não terem sido Socialistas, não terem desafiado os Estados Unidos, não terem justificado a guerra colonial da mesma maneira que Fidel Castro justificou a intervenção militar em Angola, onde morreram milhares de cubanos e graças à qual José Eduardo dos Santos governa, e por aí fora. Quem sabe se hoje, os mesmos que os condenam, não lhes fariam elogios e o próprio 25 de Abril nunca tivesse existido?
No fim deste triste espectáculo, a ironia é ter sido o CDS, que durante tanto tempo carregou o labelo de partido fascista, o único a condenar sem meias palavras a ditadura de Fidel Castro. E, no exterior, apenas Trump, o bárbaro que ameaça a civilização, ter chamado o ditador pelo nome.
Assim sendo, não admira que a Democracia esteja a regredir no mundo e que, no nosso país, haja primeiros-ministros que ameaçam jornalistas e tentam obstruir as investigações do poder judicial, sem causar grande escândalo.
Fidel Castro teria certamente aprovado tais práticas.
Artigo de João Cerqueira
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