segunda-feira, 4 de maio de 2015

A Dízima De Sócrates

Do espólio do Comendador Marques de Correia
 
O ano era 2005 e o novel líder do PS candidatava-se a primeiro-ministro. José Sócrates, um promissor político da nova geração, propunha como grande medida a criação de 150 mil empregos. Conseguiu (se descontarmos que destruiu - ou ele ou a crise, vá lá, não protestem - cerca de 300 mil).  Agora, que o ano é 2015 o novel líder do PS encarrega uma comissão inteira presidida por um professor que toda a gente considera e daí retira o quê? Retira 10 por cento da proposta de Sócrates: diz que cria 15 mil postos de trabalho.
Mas antes de irmos a tão contrastantes contas, teremos de saber o seguinte: um posto de trabalho e um emprego são a mesma coisa? Não. Um posto de trabalho pode ter três empregados, se a coisa funcionar 24 horas por dia em turnos de oito horas cada. Se assim for, há um emprego - por exemplo, segurança numa Central Nuclear, ou controlador de tráfego aéreo do aeroporto da Ota - mas criam-se três postos de trabalho. Razão pela qual a proposta de Sócrates, pode dizer-se, era ainda mais ousada.
Descontando, apesar de tudo, estas minudências, o certo é que o PS parece não estar disposto a cair nos erros do passado. Ou a cair apenas em 10 por cento dos erros do passado. Se tudo for assim e se Sócrates, por exemplo, mandou construir 2000 km de autoestradas, Costa manda apenas 200. Se Sócrates ficou de construir 12 512 casas na Venezuela, Costa só constrói 125 casas e uma casota de cão. Se Sócrates aumentou o ensino obrigatório do 9º para o 12º ano, Costa só vai aumentar um trimestre. E se Sócrates aumentou os funcionários públicos 2,9%, Costa vai aumentá-los 0,29%, ou mesmo nada, que é a mesma coisa.
A parte boa está na dívida que vai crescer mais devagar. Parece que Sócrates a aumentou 30 por cento. Então Costa só aumenta 3%. E o mesmo para os swaps e para o dinheiro que vamos gastar com o próximo banco a falir. Costa ainda não revelou se, quando sair do Governo vai viver para Mérida, que é mais ou menos a 1/10 da distância de Paris e se, em vez, de comprar um apartamento de 500 mil euros, compra uma coisa na Reboleira por 50 mil.
O importante, aqui, é percebermos que os erros da anterior governação socialista não serão repetidos e que se o forem serão numa escala mínima e sem relevância. Isso permite-nos encarar o futuro com otimismo, embora, provavelmente, com a ideia de que ele será muito menos divertido.
Mas não se pode ter tudo na vida! 


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