Artigo de Luis Marques
O BPN foi nacionalizado por representar perigo de contágio para o sistema financeiro. Na versão oficial, o BPN era portador de uma doença que poderia contaminar todo o sector. O Estado foi o serviço de urgência que acolheu o doente e que impediria o contágio, eliminando o mal.
Supostamente, é claro. Uma vez mais o Estado revelou a sua crónica incompetência para atalhar e resolver problemas, tratando uma doença grave com rezas e mesinhas. O voluntarismo paga-se caro. E a verdade é que dois anos depois a doença agravou-se, o doente está pior e o contágio aí está, em todo o seu esplendor.
O BPN contagiou a atividade política, tornando-se um foco de querelas partidárias, utilizadas em função de táticas de momento e das conveniências de ocasião. Por lá passam altas figuras do Estado, atuais e passadas, descredibilizando ainda mais o poder político aos olhos dos portugueses.
O BPN contagiou a campanha eleitoral para a Presidência da República, transformando-a numa lamentável lavagem de roupa suja, na qual ninguém fica bem, incluindo o atual Presidente e candidato à reeleição. À falta de motivos de interesse o país assiste atónito a um perigoso jogo de sombras, por causa do BPN, baixando o nível político desta campanha eleitoral para o grau zero.
O BPN contagiou a execução orçamental, penalizando fortemente os contribuintes. Aquilo que nas primeiras estimativas poderia ter ficado pelos mil milhões de euros, já vai em cinco mil milhões. Um novo reforço de 500 milhões foi pedido recentemente e ninguém sabe quando é que a sangria vai parar, fazendo perigar os objetivos orçamentais para 2011.
O BPN contagiou o sistema financeiro, chamando a atenção para os problemas graves escondidos nos balanços do sistema bancário, começando desde logo pelo da Caixa Geral de Depósitos que tem a responsabilidade de absorver todos os chamados ativos tóxicos existente nas contas do BPN.
O BPN contagiou a credibilidade do sistema, lançando fortes suspeitas sobre as habilidades que estão a ser, ou vão ser feitas, para esconder o lixo (ou seja, em linguagem técnica, as imparidades) existentes nos balanços dos bancos, o que obviamente poderá penalizar quem está a fazer um esforço sério para resolver o problema.
Ou seja, em vez de eliminar o risco de contágio do 'problema BPN', o Governo portou-se como um médico que em vez de atacar o vírus o multiplicou, em vez de atuar e atalhar o problema, arrastou-o, em vez de defender os contribuintes, penalizou-os, em vez de salvaguardar o sistema, colocou-o em risco. O que temos é um pesadelo, para todos.
Com a nacionalização, o BPN que era um problema de alguns, passou a ser um problema de todos. Deixou de ser um banco, mas continuou a ser tratado como tal. A essência da atividade bancária é a confiança. E essa estava irremediavelmente perdida. O Estado, ou seja, o Governo, tinha uma janela muito curta para atuar, liquidando o BPN. Não o fez e, agora, em vez de um grande problema, tem uma bomba entre mãos. Em vez de um doente terminal tem um vírus instalado na vida política, financeira e orçamental.
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