quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cuidado Com O Barulho Mediático Sobre A Pobreza

Artigo de José Pacheco Pereira
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Pode estar a fazer-se cedo demais e de forma exagerada o que “gasta” o problema face a um futuro muito mais negro do que o presente. O resultado é que, quando as coisas estiverem mesmo muito negras, os media desinteressar-se-ão delas, a não ser quando haja crimes, suicídios, cenas de alarido público. Ora a pobreza e as enormes dificuldades dos portugueses já são uma coisa muito séria, mas vai ser muito mais séria daqui a um ano. E as palavras gastam-se muito depressa nos media. E, com elas, a atenção dos seus destinatários.
Jornais, rádios e televisões estão cheios de reportagem, relatos e notícias sobre a pobreza que parece estar por todo o lado. Parece exagerado que, de repente, haja uma epidemia de efeitos, muitas vezes antes sequer das medidas que os provocam começarem a ser implementadas. É verdade que o desemprego já cá está há mais de dois anos (começou antes do início “oficial” da crise pelo nosso preclaro governo…), mas a gravidade do fenómeno acontecerá só quando se esgotarem as almofadas sociais, familiares e públicas, que ainda lhe minimizam os efeitos. E só durante o ano de 2011 é que a quebra abrupta do nível de vida começará em toda a sua gravidade. Por isso, convinha haver alguma contenção, porque a pobreza não é substituir as férias em Cancún por uma semana no Algarve, nem comer menos um bife por semana. É outra coisa muito mais grave, muito mais perigosa e muito menos visível.

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