Mais uma vez se confundiu o Manuel Germano com o género humano. Promove-se
uma conferência sobre a reforma do Estado, abre-se o Palácio Foz e escolhem-se
sábios para pensarem juntos. Altíssimo assunto, lugar nobre e gente adequada. A
conferência foi aberta aos jornalistas mas logo surgiu a tal confusão tão
inevitável entre nós: uma senhora avisou que não se poderia filmar nem gravar,
nem citar sem autorização dos citados. Não é assim tão insólito. Dou dois
exemplos. À minha casa costumam ir jornalistas e eles sabem que imponho essas
regras. Outro exemplo, a Chatham House Rule, uma regra do Instituto Real de
Assuntos Internacionais, de Londres. Desde 1927, organizam-se ali conferências,
fechadas, onde há confidencialidade sobre quem diz o quê. A regra apareceu para
permitir ao participante - que até pode ser jornalista, mas está lá como
convidado - falar de assuntos sensíveis (por exemplo, conflitos internacionais)
sem se sentir constrangido. Mas isso é a minha casa e a Chatham House, que são
como o Manuel Germano, os jornalistas ficam sob uma regra específica (deixam de
ser jornalistas por momentos). A conferência do Palácio Foz pertence ao género
humano, os jornalistas estavam lá segundo as regras gerais, continuando
jornalistas. Metendo os pés pelas mãos, os organizadores levaram com a debandada
dos jornalistas e a reforma do Estado ficou apagada. Eu julgo que os tolos fazem
isto sem querer. É isso que me preocupa mais.
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