Lê-se naqueles blogues povoados por maluquinhos. Certa esquerda caseira,
sempre ávida de mártires e de "causas", resolveu agora adoptar os mineiros
mortos pela polícia sul-africana a título de vítimas do capitalismo.
Pode ignorar-se que, no decorrer da sua justíssima luta por melhores
salários, os mártires em questão assassinaram, suponho que por descuido, um
mínimo de dez pessoas, algumas das quais polícias. O que não se pode ignorar é a
capacidade de efabulação da referida esquerda, que começa a chamar capitalistas
aos camaradas que mandam na África do Sul e não tarda a fazer o mesmo à demência
totalitária da Coreia do Norte, a opressão em Cuba e os ocasionais massacres
organizados pelas milícias de Hugo Chávez, por exemplo. Com jeitinho, chegaremos
ao tempo em que Estaline será considerado o típico neoliberal e Pol Pot um
precursor da Lehman Brothers.
O método, tal como a seita, é primário e consiste em associar ao lucro todos
os acontecimentos real ou estrategicamente indefensáveis. O mercado livre, essa
incarnação do Mal, explica cada desgraça da Terra, incluindo as inúmeras
cometidas contra a liberdade. São hábitos: há quem atribua as desgraças a
Belzebu, alienígenas ou Pinto da Costa. Os rapazes da esquerda possuem um bode
expiatório privativo, o qual aliás os distingue de videntes e cartomantes. Estes
distinguem-se pela inaptidão em prever o futuro, aqueles pela habilidade de
negar o passado. E obscurecer o presente.
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