Artigo de Henrique Raposo
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I. É das coisas mais difíceis de explicar a um estrangeiro: por que razão Portugal tem um governo minoritário? Por que razão não há uma coligação entre os partidos da esquerda? Por que razão ainda não existiu uma aproximação PS/BE? É difícil explicar, porque ninguém acredita que o nosso parlamento tem cerca de 17% de leninistas e trotskistas. Em 2011. Eu também não acreditava. Mas o problema está mesmo aí: o nosso regime tem este bloqueio político (não há coligações à esquerda), porque a extrema-esquerda nunca deixou de ser extrema-esquerda. A nossa extrema-esquerda, que vive mentalmente no PREC, não soube ou não quis evoluir de extrema-esquerda para esquerda libertária. E o principal culpado por esta situação é o BE. Ou melhor, o principal culpado é o absurdo radicalismo de Louçã que não permitiu esta evolução europeia do BE . Louçã criou uma espécie de PCP trotskista para concorrer com o PCP leninista.
II. Na Alemanha, "Os Verdes" ocupam o espaço do BE, e representam aquilo que, de forma lata, pode ser apelidado de esquerda libertária: é a esquerda da libertação em relação à velha moral, a esquerda anti-Igreja, a esquerda que não quer o Estado a tutelar as relações entre pessoas, donde a defesa do casamento gay, etc. É também a esquerda da defesa dos golfinhos. É, no fundo, a esquerda moderninha que existe em qualquer país ocidental. Ora, estes "Os Verdes" germânicos encontraram plataformas de diálogo com o SPD, e foram parceiros de coligação. É normal. É assim em democracia.
III. E nós? Nada. O BE tinha todas as condições para ser o parceiro de coligação do PS, mas recusou a evolução para a esquerda libertária. Através do trostskista Louçã, o BE tem apenas lutado pela manutenção do bloqueio histórico herdado do PREC. Por causa da rigidez de Louçã, nós ainda continuamos presos aos efeitos de 1975/76. É por isso que eu digo o seguinte: a maioria dos votantes do BE é libertária, mas não sabe que está a votar num PCP dos pequeninos. Os votantes do BE pensam que estão a votar numa coisa cool e moderna, mas estão, na verdade, a legitimar um parque jurássico: a luta entre o PSR (trotskista; a base de Louçã) e o PCP (leninista).
IV. Para a semana, irei analisar entrevistas antigas de Louçã (basta 2009) . Nessas entrevistas, é visível uma coisa: Louçã precisa do ódio contra o inimigo interno, a direita, essa coisa que - segundo ele - começa dentro do PS. Louçã não aceita qualquer compromisso ou diálogo, porque precisa desse ódio, dessa obsessão pelo inimigo. Louçã vem directamente do país do ódio.
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