Há cerca de um ano, por causa de uma história de indisciplina grave de uma aluna, que envolveu a disputa por um telemóvel, um coro de vozes indignadas exigia mão firme dos professores e queixava-se das limitações à sua capacidade de agir de forma mais severa com os alunos. Agora, perante as conversas delirantes de uma professora claramente desequilibrada, estranha-se que um professor possa agir de forma tão arbitrária (com ameaças aos alunos) perante uma turma, durante tanto tempo. Apesar de compreender perfeitamente a indignação dos pais, não sei se é boa ideia a comunicação social continuar a divulgar gravações feitas nas salas de aulas. Não tanto por causa deste caso específico, mas pelas suas consequências a longo prazo na perda de autoridade e de bom senso dos responsáveis escolares. E porque - não parece ser definitivamente o caso - o contexto nunca se percebe numa gravação. Os dois casos demonstram que a histeria esquizofrénica da opinião pública é má conselheira. Que, em matéria disciplinar, o equilíbrio exige que os professores tenham poder e autoridade na sala de aula mas que este tem, evidentemente, de estar limitado por regras e procedimentos e tem de ser fiscalizado, de forma responsável, pelos pais e pela escola. O tribunal da opinião pública tende a transformar cada caso num retrato geral da realidade. As escolas não podem pensar assim. Quem estava convencido que há um problema generalizado de falta de autoridade dos professores, que os professores estão atados de pés e mãos para agir na sala de aula e que os miúdos fazem o que querem na escola, fica aqui com um exemplo do risco de não dar aos pais e à escola a possibilidade de limitar o seu poder. Para quem estava convencido que os professores fazem o que querem e que ninguém tem mão neles, o caso da Carolina Michaelis mostrou que, pelo contrário, há professores que são impotentes perante um aluno indisciplinado. Ou seja, de um extremo ao outro, passando pela esmagadora maioria dos professores, que usa a sua autoridade de forma equilibrada, e pela esmagadora maioria dos alunos, que tem um comportamento normal para a sua idade, cada caso é um caso. Pode parecer uma evidência o que escrevo, mas os debates sobre este tema tendem a esquecer as evidências. E o que me assusta realmente é a falta de equilíbrio que cada episódio provoca na percepção que a sociedade tem das suas escolas, dos seus professores e dos seus adolescentes. A sociedade mediática, que vive de casos e da indignação que eles provocam, pode estar a destruir o sentido das proporções, transferindo para os fora de opinião o que só pode ser avaliado por pais, alunos, professores e direcções escolares. Dependendo de cada escola, de cada aluno e de cada professor. No palco mediático, cada caso tende a ser transformado num argumento e em motivo de histeria e de espectáculo. Seria aconselhável alguma prudência. PS: No Jornal de Notícias, dá-se conta do desagrado de alguns alunos, que desconfiam desta história. Para que fiquem aqui todas as versões. Uma nota: achando pouco normal a forma como a professora aborda as questões sexuais (há muitas formas de falar de um mesmo assunto e a idade dos miúdos exige que se saiba o que se está a fazer), acho, a ser verdadeira, muitíssimo mais grave a ameaça de abuso de poder e as referências às habilitações literárias (ou falta delas) de uma mãe. Ainda assim, esperemos pelo fim do processo. Como disse, as gravações têm os seus perigos.
.
Artigo "A Escola Não é Um Caso De TV" do Bloquista Daniel Oliveira
.
Quem ler este artigo "com o cérebro", fica com mais um retrato daquilo que é o pensamento profundamente totalitário do BE, mas como em Portugal o problema é a extrema-direita...
Sem comentários:
Enviar um comentário