sábado, 14 de fevereiro de 2009

José Socrates

Um artigo de João Pereira Coutinho
.
Comecemos pelo básico: em nenhum momento me passa pela cabeça que José Sócrates enfiou dinheiro ao bolso quando era ministro do Ambiente. O meu cepticismo é inteiramente racional: pactuar com a corrupção no caso Freeport não teria sido apenas um acto grave, a merecer punição criminal; teria sido um acto de uma clamorosa e quase inacreditável estupidez. Uma coisa é assinar uns projectos na província ou sacar uma licenciatura no mínimo bisonha. Outra, bem diferente, é hipotecar o futuro político com um acto tão rasteiro e, a prazo, tão obviamente explosivo. Acreditar nisto seria passar um atestado de imbecilidade ao primeiro-ministro que eu nem sequer reservo para o meu cágado. Dito isto, é no mínimo confrangedor assistir ao espectáculo que o eng. Sócrates tem oferecido ao país: uma gritaria contra "poderes ocultos" que, no essencial, se limita a atirar lama sobre partidos, órgãos de informação e sobre o próprio sistema judicial de que ele devia ser o primeiro defensor. A gritaria, para além de indigna, é deslocada: a investigação em curso, moribunda por obra e graça dos indígenas, ressuscitou por iniciativa inglesa. De Sócrates esperavam-se duas atitudes: serenidade e, já agora, uma total abertura para, como escreveu Henrique Monteiro, disponibilizar as suas pessoalíssimas contas ou negócios. Sem falar do resto: um esclarecimento detalhado sobre a celeridade no licenciamento do Freeport, a mudança da Zona de Protecção Especial e as reuniões que teve, ou não teve, com os responsáveis pelo outlet. Começa a ser hora de Sócrates se comportar, verdadeiramente, como um inocente.

Sem comentários: