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Nas nossas televisões pensa-se que a pobreza, é representada pelas famílias da pequena burguesia que, de chinelos e calções, ao sol algarvio, dizem que antes iam mais ao restaurante e hoje vão menos, antes ficavam quinze dias de férias, hoje só dez. Essas famílias estão a perder muito do seu status social, e, num certo sentido, a empobrecer, na presunção de que o que dizem é verdade porque o “politicamente correcto” diante de uma câmara de televisão é fortíssimo. Mas são tudo menos pobres: têm férias, o que significa que tem trabalho; podem deslocar-se de automóvel trezentos quilómetros pelo menos, o que significa que tem automóvel e dinheiro para gasolina; estão num hotel, apartamento, andar, casa alugados, o que significa que tem dinheiro para o pagar. E pelos vistos, não tinham e ainda não tem o hábito de cozinhar em casa, porque isso “não é férias”, em particular para a mulher do casal. Podem começar a ter dificuldades, mas não são pobres.
Os pobres são “porcos, feios e maus”, velhos, mal tratados, e habitam em pseudo-casas onde um alguidar está ao lado do fogão, e há sempre roupa suja numa pilha. Não são bonitos nem televisivos nem estão no Algarve, na grande transumância nacional de Agosto. E as senhoras jornalistas, que o sexismo das estações atira para as reportagens “sociais”, não acham muito agradável ir ao bairro, ou ao prédio degradado, ou a Setúbal, ou ao Cerco do Porto, a não ser que haja qualquer cena de pancadaria com a polícia para relatar.
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