O disparate abaixo é da autoria de Eduardo Pitta
A polémica em torno da não-recondução do neurocirurgião João Lobo Antunes no Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida lembra um episódio verificado em 2002 quando Osvaldo Manuel Silvestre e Pedro Serra organizaram a antologia Século de Ouro. Antologia Crítica da Poesia Portuguesa do Século XX.Tratando-se de uma antologia da poesia portuguesa de Novecentos, Silvestre e Serra convidaram ensaístas e críticos, bem como poetas com actividade crítica, num total de 80 personalidades, incluindo docentes de literatura portuguesa em universidades estrangeiras, para escolherem os seus poemas preferidos. 73 aceitaram o desafio de fazer uma close reading do poema que, em face das suas preferências, lhe fosse atribuído. Cada um de nós escolheu 3 poemas dos anos 1900 — poemas e não poetas —, indicando-os por ordem de preferência. Eu escolhi poemas de Rui Knopfli, Jorge de Sena e Al Berto (por esta ordem). Face a repetições, absolutamente previsíveis, os 73 poemas coligidos — de 47 poetas — não corresponderam em todos os casos à 1.ª prioridade do “seu leitor”. Quando a antologia foi publicada, a polémica instalou-se. Os deputados do círculo de Coimbra na Assembleia da República, em requerimento oficial, quiseram saber o porquê da omissão de Manuel Alegre. Muita gente estranhou as ausências de António Botto, António Gedeão, Miguel Torga, Natália Correia, M. S. Lourenço e Al Berto. As coisas são o que são. Fulano supôs que beltrano seria escolhido por sicrano que, por sua vez, “tinha a certeza” que alguém escolheria um dos nomes óbvios.Agora sucede o mesmo com o neurocirurgião João Lobo Antunes na sua não-recondução para o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.A Presidência da República garante que havia um compromisso do Governo para a recondução. Paulo Rangel, actual eurodeputado mas líder parlamentar do PSD quando o assunto foi tratado “pessoalmente” por ele, afirma que João Lobo Antunes só «não foi incluído na lista da Assembleia da República porque o PS lhe garantiu que o Governo o ia nomear.» O gabinete do primeiro-ministro desmente ambas as versões. A deputada Maria de Belém Roseira, do PS, explicou que o Parlamento não se intromete nas competências exclusivas do Governo. Ainda por cima, era convicção de quase toda a gente que o neurocirurgião João Lobo Antunes seria indicado pelo Conselho de Reitores ou pela Academia das Ciências, coisa de que nenhuma destas duas instituições se lembrou.
Moral da história: não se pode contar com o ovo no cu da galinha
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