Vladimir Putin costumava ser visto como o tipo de homem que nos tranquiliza
se formos à caça com ele. Mas agora ele apareceu-nos como mestre da palavra,
papel raro para um líder político russo (embora um seu antecessor, Leonid
Brejnev, tenha sido Prémio Lenine de Literatura...) Anteontem, Putin assinou uma
coluna de opinião com notável articulação de argumentos, feita no momento certo
e publicada no lugar ainda mais certo, The New York Times. Desde o título ("Um
apelo de prudência vindo da Rússia"), o artigo é cheio de bom senso. Na frase de
entrada, Putin foi frontal: "Os recentes acontecimentos na Síria levaram-me a
falar diretamente ao povo americano." No fio de todo o texto, relembrou o óbvio:
"Um ataque [à Síria] desataria uma nova onda de terrorismo." O contexto foi
definido: "Na Síria não há uma batalha pela democracia, mas um conflito armado
entre o governo e a oposição num país multirreligioso. Há poucos campeões da
democracia na Síria." Sobre a incoerência americana, Putin foi ao ponto: "O
Departamento de Estado americano designou Al Nusra [o principal grupo rebelde]
como terrorista." No remate, picou a soberba da América: "Não nos devemos
esquecer que Deus nos criou todos iguais"... O balanço é evidente: Putin apagou
Obama na agenda síria. Com esta crueldade suplementar: Obama ainda lhe deve
agradecer por o livrar da asneira de um ataque. Nobel da Paz para Putin? Seria
abuso, mas Obama recebeu-o por menos.
P.S. Putin em discurso directo
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