O dia de reflexão deve ser o dia mais estúpido do calendário político. Cautelarmente escrevo isto no último dia de campanha, não vá alguém achar que isto é sub-repticiamente a favor de um partido qualquer.
E é estúpido, porque vem de outro tempo. De tanto ser anacrónico, ou seja, fora do tempo, tornou-se absurdo.
Quando as campanhas eram (só) pelas ruas, porta-a-porta com panfletos e pancartas, bandas de música e candidatos sorridentes que apareciam uma vez por dia à hora do telejornal do único canal existente; quando não havia redes sociais, Internet e meios como os outodoors que inundam o espaço público; quando a campanha não começava um ano antes do dia das eleições e o resultado era uma surpresa conhecida a altas horas ou no dia seguinte, talvez fizesse sentido (quase por certo fazia) o dia de reflexão. Em que as pessoas, deixando de ouvir argumentos aqui e ali, ligando a televisão e vendo, no único canal, documentários da África longínqua ou tragédias da Ásia menor - sem rede, sem Facebook, sem Twitter, sem outra coisa que não fosse a conversa pessoal com os vizinhos - nessa altura talvez fosse defensável que, entre todos os argumentos ouvidos nos últimos 10 ou 20 dias, o cidadão consciente escolhesse o que mais lhe agradava.
Agora, que se sabe quem ganha em quase todo o lado antes de o cidadão se movimentar até à cabina de voto e em que das poucas incógnitas resta a taxa da abstenção, pretender que o sábado sereno sem campanha é um contributo para uma decisão serena é ridículo.
Bem pode a CNE estar atenta à Internet, aos milhares de blogues, aos milhões de posts no Twitter e no Facebook. Como todas as leis anacrónicas, também esta só prejudica quem a cumpre.
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