A minha vida mudou hoje de manhã. Acordei pelas 7 mas olhei para a minha agenda sem qualquer angústia. O que não fizer hoje faço amanhã, o que não fizer amanhã faço para a semana e o que não fizer para a semana logo se vê. Tenho sérias dúvidas que o Expresso saia este sábado e nem sei porque estou a escrever este texto no exato horário em que mo pediram. Em bom rigor, só devia escrever este texto quando me apetecesse.
A minha vida mudou hoje de manhã, ou mais precisamente quando pus o relógio novo. Comprei-o ontem à tarde no relojoeiro que fornece a Autoridade da Concorrência (AdC) e, ao que parece, alguns departamentos da nossa Justiça. Posso garantir que a minha vida mudou. Encaro o tempo com outra distância, deixei de beber café, desliguei o antivírus a ver se o Outlook se evapora e esqueci-me do Moleskine no bolso de outro blazer.
A minha vida mudou hoje de manhã, mas reconheço que o devo a Manuel Sebastião. Quando, ontem, o presidente da AdC disse, calmamente, no Parlamento que a investigação em curso aos bancos estaria concluída "dentro de dois anos" percebi que podia ter outra vida, sem precisar de reler o Siddartha e pôr-me a andar pela a Ásia descalço. Afinal, há outra vida, aqui mesmo onde nos encontramos.
Quem diz que uma investigação a uma possível cartelização da banca vai demorar dois anos a ser esclarecida merece a minha admiração. Quem acha que esse tempo é aceitável para um regulador merece o meu aplauso. Quem diz tudo isso com tranquilidade merece o meu elogio rasgado. Obrigado, Manuel Sebastião. Obrigado, AdC. Com um relógio como o vosso nunca mais tenho pressa
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