segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Presidenciais EUA 2012 LXXVIII

O Pretinho Salazarista (Artigo de Henrique Raposo)

As eleições americanas são bestiais por duas razões. Em primeiro lugar, há ali um choque entre projetos para a sociedade e um embate entre visões do homem. Ou seja, há política e não uma gestão contabilistica de uma Constituição que decidiu a governança em 1796 (Nota: o autor no texto original escreveu 1976, o que é seguramente um erro). Em segundo lugar, o jogo é entre dois sujeitos de direita, uma salutar diferença em relação ás eleições portuguesas, esse fenómeno tão excitante como croché e que junta dois comunistas, um socialista e dois hemafroditas. Sim, Obama é um sujeito que se sentaria á direita do CDS. É por isso incompreensível o amor da esquerda pelo atual Presidente da União. O homem representa a negação do nosso progressismo. Então, de onde vem o amor? Ora, é cool apoiar um negro. Além disso, é preciso apoiar o pretinho, caso contrário ainda vão pensar que somos racistas, não é verdade?
Se eu fosse americano, não votaria em Obama num cenário marcado por um republicano clássico, como é o caso de Romney. Mas se o Partido Republicano apresentasse uma espécie de George McGovern de direita, não teria problemas em votar em Obama. E não seria necessário um cilicio na coxa ou uma venda nos olhos. Obama coloca "Deus", "pátria", "responsabilidade individual", "família", "trabalho" e "liberdade" no centro da sua visão política. Se utilisasse esses termos, um político português seria apelidado de neoliberal-ás-bolinhas-amarelas pelas esquerdas indigenas, as mesmas esquerdas que rezam todos os dias no altar do pretinho. "Ai, mas Obama fez um SNS na America", grita o indignado ali do canto. Não, Obama não copiou o Dr Arnaut. Obama fez uma coisa diferente, copiou as bases conservadoras e liberais dos melhores sistemas de saúde da Europa.
Depois de olhar para a Suiça, Alemanha ou Holanda, Obama percebeu que uma cobertura universal de saúde não é sinónimo de uma rede de hospitais estatais. Naqueles países bismarckianos, o sistema assenta num seguro de saúde individual, privado e obrigatório, e o estado financia o seguro das famílias que, num dado momento, não podem suportar a despesa. Este sistema dá mais liberdade de escolha ás famílias e é menos pesado para o erário público. Tal como acontece na educação (saí mais barato financiar as propinas de escolas privadas do que manter escolas estatais), é menos dispendioso financiar seguros de saúde privados do que manter mastodontes estatais como o Santa Maria. A Obamacare é isto. E, já agora, também é uma cópia do sistema que Romney criou no Massachussets. Eu não dizia que estávamos a falar de dois sujeitos de direita? Mas, para terminar, expliquem-me uma coisa: Como é que a esquerda pode idolatrar Obama? Se defendesse este projeto obâmico, um politico português seria acusado de querer o "regresso ao salazarismo". Pois, não digo que não: se calhar, o pretinho é salazarista. Alguém que avise o homem.
 
 


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