Harvard Law School vs Harvard Business Scholl
Barack Obama é o primeiro presidente Afro-americano. Mitt Romney deseja ser o primeiro mórmon a chegar à Casa Branca. Ambos estudaram na Universidade de Harvard, mas as semelhanças terminam aqui. Este é um dos poucos aspectos em comum destes dois homens que vão disputar o cargo político mais poderoso do mundo. Mas até aí encontramos diferenças. Mitt Romney esteve em Harvard a estudar Gestão enquanto Obama frequentou Direito. Obama é um político mais jovem, nasceu quando John F. Kennedy estava na Casa Branca e atingiu o topo da carreira política antes dos 50 anos. Com um currículo académico interessante, Obama demorou cerca de 10 anos a transformar-se total desconhecido nas ruas de Chicago até Presidente dos Estados Unidos. Mitt Romney nasceu quando as bombas da II Guerra Mundial ainda ecoavam na Europa, tendo primeiro investido na sua carreira empresarial para apenas depois se dedicar ao serviço público. As suas qualidades políticas não são inatas, como sucede com Barack Obama, mas compensa essa carência com uma dedicação e um profissionalismo que fazem dele um político eficiente.
Mitt Romney nasceu em 1947, filho de uma família Mórmon, e herdou dos pais o gosto pela política e pela causa pública. George Romney foi um popular governador Republicano do Michigan na década de 60, um dos líderes da ala “liberal” do Partido Republicano, em contraste com a facção de Barry Goldwater. Mais tarde fez parte da Administração Nixon. A sua mãe, Lenore Romney, foi candidata ao senado pelo Partido Republicano em 1970, numa época em que poucas mulheres se aventuravam na política. Seria expectável que Romney perseguisse imediatamente os passos dos pais, mas não foi isso que sucedeu. Seguindo um conselho do seu pai, que lhe pediu para apenas se meter na política quando fosse financeiramente independente, Romney foi trabalhar para a empresa de investimentos Bain & Company mal saiu de Harvard, ajudando a fundar posteriormente a Bain Capital, ainda hoje uma das empresas de capitais de risco com mais sucesso no mundo. Só depois de ser milionário Romney abandonou a zona de conforto dos negócios e dedicou-se à política. Barack Obama nasceu 14 anos mais tarde do que Romney, em 1961 em Honolulu. Filho de pai queniano e mãe natural do Kansas, Obama teve uma infância conturbada, tendo vivido com a mãe na Indonésia entre os 6 e os 10 anos. A partir daí regressou ao Havai para viver com a Avó, tendo estudado num dos melhores colégios de Honolulu. Mais tarde estudou Ciências Políticas e Relações Internacionais na Universidade de Colúmbia e passou a década de 80 a trabalhar em organizações sociais de Chicago. Em 1988 ingressa em Harvard, onde foi o primeiro negro a liderar a prestigiada Law Harvard Review. Começa a dar aulas a Universidade de Direito de Chicago, mas o bichinho da política já estava impregnado nele. Em 1997 é eleito senador estadual do Illinois, nunca mais deixando a política activa.
Um pouco antes, em 1994, Romney tem a sua primeira incursão na política, tentando, sem sucesso, afastar o histórico Ted Kennedy como senador do Massachusetts. Derrotado com um resultado honroso, Romney regressa ao mundo dos negócios, mas sem nunca mais deixar de vista a política. Quando em 1999 foi convidado para liderar e salvar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 em Salt Lake City, Romney não hesitou e voltou a abandonar a Bain Capital, desta vez para sempre. Nesse mesmo ano foi eleito governador do Massachusetts, um dos estados mais “liberais” dos Estados Unidos. Assente na sua carreira de empresário de sucesso e no seu percurso elogiadíssimo na liderança dos Jogos Olímpicos, Romney, assumiu-se como um republicano independente e que tinha posições sociais moderadas em temas como o aborto. Com a carreira empresarial, os Olímpicos e o cargo de Governador do Massachusetts, Romney tinha conquistado finalmente a visibilidade nacional e o currículo necessário para se candidatar ao cargo mais desejado: a presidência dos Estados Unidos da América. Mas não chegou lá à primeira. 2008 era o ano de John McCain no Partido Republicano. O ano de ouro de Barack Obama, que depois de alguns anos na política do Illinois, tinha chegado a Washington em 2004 já com uma áurea de prestigio. Em 2000 Obama tinha tentado candidatar-se à Câmara dos Representantes, mas foi derrotado logo nas primárias democratas. A sua fama na chegada ao Senado deveu-se sobretudo a um eloquente momento de oratória: em Agosto de 2004 fez um notável discurso na Convenção Democrata, que apaixonou a América e deixou milhões de democratas a sonhar. Ainda mal tinha entrado no Senado em 2004 e o seu nome já era referido como potencial candidato presidencial em 2008. Foi o aconteceu, e contra todas as previsões iniciais, derrotou Hillary Clinton numas primárias muito disputadas e venceu o herói de guerra John McCain nas eleições gerais. Chega a 2012 com as cicatrizes de um mandato bastante complicado, mas em condições de ser reeleito.
Também nas ideias políticas são distintos. Mitt Romney, tendo começado a carreira política como centrista, desviou-se para a direita nestas duas recentes campanhas políticas. No entanto, é hoje um político aceitável para o eleitorado conservador e capaz de conquistar o centro com a sua mensagem económica. Obama iniciou-se na vida política como um “liberal” de Chicago, tendo recentrado o seu discurso após 2004. Apesar de ter sido eleito com o apoio da ala mais à esquerda do Partido Democrata, assumiu no poder políticas polémicas para a sua base, nomeadamente na segurança nacional e na política externa. Mas isso não lhe custou a popularidade na base, compensando-a com o seu plano de estímulos, com a lei da reforma da saúde e mais recentemente com uma retórica agressiva contra os ricos. Mitt Romney preconiza uma reforma profunda na América, com restruturação do papel do Estado Federal na vida dos cidadãos; Obama deseja preservá-lo, através de um estado intervencionista na economia e na sociedade. Tendo personalidades distintas, há algo, no entanto, que os aproxima: ambos são cerebrais e pouco emotivos no contacto com o povo americano. Obama ainda dissimula isso com a sua retórica mais emotiva e com o seu carisma, mas é indisfarçável que ambos são calculistas, frios e metódicos. Em 2008 muitos, incluindo eu, perspectivaram que este seria o confronto de 2012. Mas o que não era expectável na época é que seria uma disputa renhida e com amplas possibilidades de vitória para Mitt Romney.
A escolha da América será feita entre estes dois homens tão díspares e com políticas radicalmente contrárias. A democracia fica a ganhar quando assim sucede.
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