Das Cartas Abertas do Comendador Marques de Correia
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Houve tempos mais frescos do que os atuais. Eu lembro-me de a praia ser um local agradável, com uma pessoa aqui, uma família acolá, com espaço; um tempo em que o povo não tinha fins de semana nem férias e se podia, enfim, desfrutar a areia e o mar em silêncio, o qual só era entrecortado pelos homens vestidos de branco que gritavam: "Olhó Rajá fresquinho! Há fruta ó chocolate!" Porque nessa altura só havia fruta ou chocolate. A fruta era sumo gelado; o chocolate era uma fina película que envolvia um gelado de baunilha. E pronto, as pessoas divertiam-se. Também havia os senhores das bolas de berlim, como hoje, mas não havia aquela gente toda a vender relógios, óculos, vestidos, camisolas, colares, pulseiras e cremes. Também havia mais de meio metro quadrado de areia por pessoa.
Houve tempos em que quem não gostava só de praia podia ir para a mata sem se tornar imediatamente ou vítima de um incêndio ou suspeito de pirómano. As pessoas estendiam mantas, que ficavam repletas de formigas, e sobre elas boiões de patés e doces, pratos de carnes frias, garrafas frescas de água e vinho, terrinas de trutas de escabeche e fatias de pão caseiro. Ali se recostavam a ouvir os pássaros e a ver cair as pinhas sem que ao longe estivesse uma aparelhagem roufenha com uma música de Tony Carreira ou Quim Barreiros, para não falar do vaivém das sirenes dos bombeiros e dos sinos metalizados de igrejas com instalações sonoras, como se a voz de Deus já tivesse de ser amplificada.
Mas, sobretudo, meus caros amigos, houve tempos em que na canícula se silenciava a política. Havia mesmo um provérbio tradicional que eu inventei agora mesmo e que rezava assim: na canícula cala a política.
Mas agora, para além do muito calor, da praia cheia de gente, das matas a arder, ainda temos o Passos, o Sócrates, o Portas, o Jerónimo e esse persistente, perfurante e percutante Louçã, que por praia, terra, mar e ar nos dão as suas opiniões sobre o destino do país.
Que é ótimo, dizem uns;
Que é péssimo, afirmam outros;
Que é fatal, insistem ainda outros;
Que é terrível, determinam os mais pessimistas;
Que só é bom para os primeiros, garantem os últimos.
Os fogos consomem a mata sem que se possa fugir para a praia; a confusão assola as praias sem que se possa fugir para a mata. Abalroado por uns e outros, esconde-se o cidadão em casa. Mas nem aí o deixam: liga-se a televisão, compra-se um jornal, e até a silly season desapareceu. Na verdade, não é necessário inventar nada de muito silly quando eles andam por aí a fazer declarações...
Mas existe aqui um perigo latente: se já não desligamos do resto do ano, para que nos servem as férias?, se Sócrates, Passos Coelho, Portas, Jerónimo e Louçã mantêm em agosto - eles ou os seus clones políticos - o mesmo ritmo que no resto do ano, como descansar deles?
Proponho, pois, que haja, pelo menos, 15 dias por ano em que os portugueses possam tirar férias da classe política. Que o Tribunal Constitucional impeça os políticos de falar e controle e multe os que prevaricarem.
Eis uma proposta fresca, relaxante e verdadeiramente repousante. Não há nada como podermos descansar. Penso que até os fogos diminuiriam.
Houve tempos em que quem não gostava só de praia podia ir para a mata sem se tornar imediatamente ou vítima de um incêndio ou suspeito de pirómano. As pessoas estendiam mantas, que ficavam repletas de formigas, e sobre elas boiões de patés e doces, pratos de carnes frias, garrafas frescas de água e vinho, terrinas de trutas de escabeche e fatias de pão caseiro. Ali se recostavam a ouvir os pássaros e a ver cair as pinhas sem que ao longe estivesse uma aparelhagem roufenha com uma música de Tony Carreira ou Quim Barreiros, para não falar do vaivém das sirenes dos bombeiros e dos sinos metalizados de igrejas com instalações sonoras, como se a voz de Deus já tivesse de ser amplificada.
Mas, sobretudo, meus caros amigos, houve tempos em que na canícula se silenciava a política. Havia mesmo um provérbio tradicional que eu inventei agora mesmo e que rezava assim: na canícula cala a política.
Mas agora, para além do muito calor, da praia cheia de gente, das matas a arder, ainda temos o Passos, o Sócrates, o Portas, o Jerónimo e esse persistente, perfurante e percutante Louçã, que por praia, terra, mar e ar nos dão as suas opiniões sobre o destino do país.
Que é ótimo, dizem uns;
Que é péssimo, afirmam outros;
Que é fatal, insistem ainda outros;
Que é terrível, determinam os mais pessimistas;
Que só é bom para os primeiros, garantem os últimos.
Os fogos consomem a mata sem que se possa fugir para a praia; a confusão assola as praias sem que se possa fugir para a mata. Abalroado por uns e outros, esconde-se o cidadão em casa. Mas nem aí o deixam: liga-se a televisão, compra-se um jornal, e até a silly season desapareceu. Na verdade, não é necessário inventar nada de muito silly quando eles andam por aí a fazer declarações...
Mas existe aqui um perigo latente: se já não desligamos do resto do ano, para que nos servem as férias?, se Sócrates, Passos Coelho, Portas, Jerónimo e Louçã mantêm em agosto - eles ou os seus clones políticos - o mesmo ritmo que no resto do ano, como descansar deles?
Proponho, pois, que haja, pelo menos, 15 dias por ano em que os portugueses possam tirar férias da classe política. Que o Tribunal Constitucional impeça os políticos de falar e controle e multe os que prevaricarem.
Eis uma proposta fresca, relaxante e verdadeiramente repousante. Não há nada como podermos descansar. Penso que até os fogos diminuiriam.
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