terça-feira, 18 de abril de 2017

No Rectifications

Post de Sérgio Barreto Costa aqui

Esta semana fui almoçar ao Centeno´s, um restaurante muito antigo mas que está sempre a mudar de nome e de gerência. Recordo-me de ir lá desde criança, com os meus pais e com os meus avós. Era o Salgueiro´s, nessa altura, e a minha mãe queixava-se sempre das constantes mexidas nos preços. “Fui aumentada 20% e mesmo assim não chega”, comentava ela com um encolher de ombros. O meu avô ainda era do tempo em que se chamava Salazar´s e era gerido com pulso firme; ele dizia-me que mesmo quando a comida não estava boa ninguém reclamava em voz alta, parece que a alternativa era um restaurante no Forte de Peniche em que a excelente vista para o mar não compensava o péssimo serviço.
Beleza´s, Catroga´s e Cadilhe´s são alguns dos nomes de que me lembro da minha adolescência. Este último acabou por passar o estabelecimento quando saiu uma opinião muito negativa no Independente. O crítico do jornal escreveu que faltava um condimento em todos os pratos. Acho que era a sisa, não tenho a certeza porque percebo pouco de culinária. Sempre ouvi dizer que o restaurante acumula prejuízos anualmente, e não sei como continua aberto! É verdade que há meia dúzia de anos esteve quase a entrar em insolvência, mas nunca chegou a fechar as portas. Desde aí já se chamou Gaspar´s e Albuquerque´s, os preços subiram bastante, as doses ficaram mais pequenas, e a clientela barafustou. No entanto, todos continuam a lá ir, dir-se-ia que parecem obrigados!
Agora aconteceu-me uma coisa muito estranha, que não me lembro de alguma vez ter acontecido! O papel afixado na entrada anunciava o menu do dia: creme de legumes, bife do lombo com batata frita e ovo, um copo de vinho, e tarte de maçã com bola de gelado para a sobremesa. Tudo por 6 euros. Quando dei por ela estavam a pôr-me à frente caldo verde, lombo de porco assado, um copo de água, e uma tangerina! Perante a minha reclamação o empregado justificou-se dizendo que o preço tinha baixado para 5,90 euros. “Oh amigo, a questão não é essa”, afirmei eu com cara de mau, “vocês deviam alterar a informação que está ali na porta, assim sinto-me enganado”. E é nessa altura que aparece o gerente, com o peito inchado de vaidade, a dizer que era um homem completamente diferente de todos os anteriores donos e que se orgulhava muito de nunca fazer ementas rectificativas. “E mais”, acrescentou, “andava meio mundo a dizer que eu não conseguia servir bife do lombo por 6 euros e agora vão ter engolir as palavras”. Não consegui resistir e disse-lhe que ele devia estar a gozar comigo e que talvez estivesse a precisar de descansar, mas, mal acabo de falar, chega o chefe de sala, um tal de Mourinho Félix, e fica a olhar para mim com ar nervoso. Depois respirou fundo, chamou os cozinheiros, os empregados de mesa e o pessoal da limpeza, olhou duas ou três vezes em redor, pousou a mão nas costas de uma cadeira, voltou a encher o peito de ar, apertou-me a mão e declarou: “quero dizer-lhe que foi profundamente chocante aquilo que disse. E gostaríamos que pedisse publicamente desculpa. Bom… quer dizer… se não lhe apetecer, então não precisa de pedir. E também queremos que saia do restaurante. Quer dizer… não lhe vamos pedir para sair, mas… bom… não sei bem. Olhe, fazemos assim, você procede como quiser e depois vê-se, está bem? Muita saudinha e cumprimentos lá em casa. E desculpe qualquer coisinha”.



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