Há meses croniquei aqui sobre os burros de Miranda ("Afinal nem tudo é asno",
24 de Fevereiro de 2013). Ontem, o The New York Times também se interessou pelo
burro mirandês. Raphael Minder , o jornalista, lançou a metáfora: "O destino do
burro começa a assemelhar-se ao dos humanos: ameaçado pelo declínio populacional
e dependente para sobreviver dos subsídios da União Europeia." Claro, feriu
suscetibilidades. Logo se disse que os americanos comparam portugueses ao burro
mirandês... Minder, falando para o Público, teve de dizer que longe dele pensar
isso. Foi, então, que eu me dei conta da tangente que passei ao apedrejamento. É
que eu comparei, mesmo, os portugueses e os burros de Miranda! Mais, ousei dizer
que, na comparação, os homens ficavam em desvantagem. É que na minha crónica eu
referia o Centro de Acolhimento de burros, em Miranda do Douro, por onde andou
agora Raphael Minder. Ali, os velhos transmontanos, de 70 anos, vão levar os
companheiros, que aos 35 são tão velhos quanto eles, para terem uma reforma
digna. Ali, limam-se os dentes pontiagudos aos burros, cuidam dos cascos e
deixam-nos passear sem precisar de arrastar o arado... Confesso que me comovi
por ver bem tratados portugueses que ficaram velhos para o mercado de trabalho.
Embora também amargo por saber que a outros velhos compatriotas, quando bípedes,
se lhes lança a pergunta moderna: "Qual é a parte de "não há dinheiro para ti"
que não entendes?"
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