Post de Maria Teixeira Alves
A propósito deste e doutros comentários que condenam Cavaco Silva por ter sido contra a libertação de Mandela em 1987, há que lembrar que a resolução das Nações Unidas que defendia sua libertação, defendia a luta armada para erradicar o apartheid e convidava os países a financiarem a luta armada (ponto 8). Ou seja, legitimava um terrorismo para acabar com outro.
Portugal não assinou (Mário Soares era Presidente da República, mas isso parece esquecido por Daniel Oliveira, qual arauto do perdão que elevou Mandela), assim como não assinaram os Estados Unidos, nem os Ingleses. E outros abstiveram-se, incluindo países escandinavos do 'wealfare state'. É fácil aproveitar Mandela para fazer uma crítica política à Direita de que Ronald Reagan e Margaret Thatcher são ilustres representantes. Mas quem assinaria hoje uma resolução que legitimasse a luta armada e o financiamento dessa luta armada?
Ora Nelson Mandela tornou-se no mito que é, não por ter sido libertado, nem sequer foi pelo Apartheid ter acabado na África do Sul, o Madiba tornou-se num herói internacional precisamente porque perdoou. Como Cristo, perdoou. Depois de quase três décadas de prisão, Mandela perdoou a quem o prendeu, e construiu com ele um novo país. Essa é a grandeza de Mandela, e deve-o ao seu carácter. Ao seu excelente carácter e inteligência.
Pode discutir-se se a África do Sul é um país de sucesso ou não, se esse novo país que foi construído foi bem construído ou não. Se os sul-africanos são verdadeiros herdeiros do "perdão" de Mandela, provavelmente não são. O racismo deixou de estar instituído, «graças a Deus», mas não desapareceu do coração dos Homens, e não está só nos Boers. Só quem não conhece África pode dizer que o racismo é um monopólio dos brancos. Há racismos (no que exclusivamente diz respeito a raças e não a classes ou outras coisas mais) em todos os sentidos e direcções.
Mandela deu ao mundo a lição do perdão, como há mais de 2000 anos Cristo já tinha dado. Mandela mudou o mundo? Não, não mudou, porque o bem continua a ser residual num mundo cada vez mais relativista. Mas teve a lucidez de escolher o caminho do bem. Foi, nesse aspecto, um Senhor, Nelson Mandela.
E há alguma hipocrisia naqueles que embandeiram Mandela em arco e depois atiram pedras aos vizinhos. Apetece-me dizer, sigam o vosso líder, sigam.
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