terça-feira, 30 de abril de 2013

Na America O Presidente Pode Calçar Meias Rosa

Artigo de Leonídio Paulo Ferreira
 
Bush pai era o "vice" de Reagan quando este expulsou Carter da Casa Branca. Clinton impediu Bush pai de repetir o mandato. Bush filho foi eleito à custa de Gore, o vice-presidente de Clinton. E Obama chegou à Casa Branca prometendo fazer tudo ao contrário de Bush filho. Têm razões para implicar uns com os outros estes homens que são os cinco presidentes dos Estados Unidos vivos. Mas estiveram juntos há dias na inauguração da Biblioteca Presidencial dedicada a George W. Bush. Chama-se a isso sentido de Estado. E os americanos dão exemplo ao mundo.
Foi Dallas a cidade escolhida por Bush filho para erguer o museu que lembrará a sua presidência, a da resposta ao 11 de Setembro mas também a da crise do subprime. Isto das bibliotecas é mais uma daquelas tradições que servem para celebrar os sucessores de George Washington, o general fazendeiro que conquistou a independência e preferiu ser presidente a rei.
Obama é já o presidente número 44, apesar de na realidade serem 43 (Cleveland conta duas vezes). Ora foi ele, com a sua genial oratória, que fez o maior elogio a Bush filho, mas também ao cargo, contando que na Casa Branca encontrou uma carta do antecessor. Este lembrava-o que ser Presidente é saber ser humilde, pois o caminho faz-se de erros e de acertos.
A foto dos cinco Presidentes impressiona. Carter e Bush pai são os mais velhos, com 88 anos. O primeiro saiu da Casa Branca pela porta pequena, mas tornou-se um gigante dos direitos humanos a ponto de ganhar o Nobel. O outro conta no currículo ter sido o líder americano que viu desaparecer a União Soviética, ele que aos 18 anos pilotava aviões na Segunda Guerra Mundial.
Clinton, esse, faz diplomacia paralela, ajudando a libertar jornalistas na Coreia do Norte, mas também serve de estratego a Hillary, a primeira dama que foi secretária de Estado e sonha com a presidência. Bush filho dedica-se à pintura, o que parece pouco, mas também como nunca ninguém esperou muito dele talvez surpreenda. Quanto a Obama, é a encarnação do sonho americano, o filho de imigrante queniano que se tornou o homem mais poderoso do mundo.
Em dois séculos de história da América, nunca um Presidente foi derrubado. Houve assassínios, sim, como os de Lincoln e Kennedy, e até a demissão de Nixon, mas a legalidade impôs-se, com o "vice" a assumir. Também nunca se adiaram presidenciais, nem durante a Guerra Civil. Vota-se em novembro, a cada quatro anos como manda a Constituição, que vem do tempo de Washington.
Voltemos à foto. Tal como o Monte Rushmore imortaliza alguns dos antecessores de Obama, também há algo de imortal neste grupo em Dallas. A América está acima das suas divergências, a América é a passagem de testemunho de uns para os outros em paz, mesmo quando a lei eleitoral perverte o voto popular, como em 2000. É tão forte essa dignidade que emana do cargo que já foi de Jefferson e dos dois Roosevelt que ninguém estranha que Bush pai, sentado numa cadeira de rodas, mostre as meias rosa com pintinhas.

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