Artigo de Leonídio Paulo Ferreira
Bush pai era o "vice" de Reagan quando este expulsou Carter da Casa Branca.
Clinton impediu Bush pai de repetir o mandato. Bush filho foi eleito à custa de
Gore, o vice-presidente de Clinton. E Obama chegou à Casa Branca prometendo
fazer tudo ao contrário de Bush filho. Têm razões para implicar uns com os
outros estes homens que são os cinco presidentes dos Estados Unidos vivos. Mas
estiveram juntos há dias na inauguração da Biblioteca Presidencial dedicada a
George W. Bush. Chama-se a isso sentido de Estado. E os americanos dão exemplo
ao mundo.
Foi Dallas a cidade escolhida por Bush filho para erguer o museu que lembrará
a sua presidência, a da resposta ao 11 de Setembro mas também a da crise do
subprime. Isto das bibliotecas é mais uma daquelas tradições que servem para
celebrar os sucessores de George Washington, o general fazendeiro que conquistou
a independência e preferiu ser presidente a rei.
Obama é já o presidente número 44, apesar de na realidade serem 43 (Cleveland
conta duas vezes). Ora foi ele, com a sua genial oratória, que fez o maior
elogio a Bush filho, mas também ao cargo, contando que na Casa Branca encontrou
uma carta do antecessor. Este lembrava-o que ser Presidente é saber ser humilde,
pois o caminho faz-se de erros e de acertos.
A foto dos cinco Presidentes impressiona. Carter e Bush pai são os mais
velhos, com 88 anos. O primeiro saiu da Casa Branca pela porta pequena, mas
tornou-se um gigante dos direitos humanos a ponto de ganhar o Nobel. O outro
conta no currículo ter sido o líder americano que viu desaparecer a União
Soviética, ele que aos 18 anos pilotava aviões na Segunda Guerra Mundial.
Clinton, esse, faz diplomacia paralela, ajudando a libertar jornalistas na
Coreia do Norte, mas também serve de estratego a Hillary, a primeira dama que
foi secretária de Estado e sonha com a presidência. Bush filho dedica-se à
pintura, o que parece pouco, mas também como nunca ninguém esperou muito dele
talvez surpreenda. Quanto a Obama, é a encarnação do sonho americano, o filho de
imigrante queniano que se tornou o homem mais poderoso do
mundo.
Em dois séculos de história da América, nunca um Presidente foi derrubado.
Houve assassínios, sim, como os de Lincoln e Kennedy, e até a demissão de Nixon,
mas a legalidade impôs-se, com o "vice" a assumir. Também nunca se adiaram
presidenciais, nem durante a Guerra Civil. Vota-se em novembro, a cada quatro
anos como manda a Constituição, que vem do tempo de Washington.
Voltemos à foto. Tal como o Monte Rushmore imortaliza alguns dos antecessores
de Obama, também há algo de imortal neste grupo em Dallas. A América está acima
das suas divergências, a América é a passagem de testemunho de uns para os
outros em paz, mesmo quando a lei eleitoral perverte o voto popular, como em
2000. É tão forte essa dignidade que emana do cargo que já foi de Jefferson e
dos dois Roosevelt que ninguém estranha que Bush pai, sentado numa cadeira de
rodas, mostre as meias rosa com pintinhas.
Sem comentários:
Enviar um comentário