Artigo de Alberto Gonçalves
A nossa classe política continua a mostrar-se um paradigma da ponderação.
Antes de ir de férias (eu, não ele), Mário Soares ameaçou o prof. Cavaco com um
regicídio. Volto de férias e vejo Otelo Saraiva de Carvalho pedir pela enésima
vez uma revolução. Pelo meio, houve Luís Filipe Menezes, que, confrontado com a
história de que uma entidade obscura recorrerá à Justiça para impedir a
candidatura do dr. Menezes à Câmara do Porto, proferiu a já célebre frase:
"Volta Estaline que estás perdoado."
A equivalência é feliz. De facto, prender e assassinar dezenas de milhões de
pessoas é, mais pormenor, menos pormenor, bastante parecido com invocar a lei da
limitação de mandatos a fim de manter o dr. Menezes em sossego. Se a retórica do
ainda autarca de Vila Nova de Gaia fizer escola, não tardará que diversas
sumidades indígenas desatem a comparar as alterações no subsídio de férias ao
genocídio do Ruanda e as novas regras na colocação de professores ao Holocausto.
Com jeitinho, Isaltino Morais encontrará semelhanças entre o seu currículo
judicial e o calvário de Cristo.
Não surpreenderá que a retórica faça de facto escola. Do dr. Menezes ao dr.
Soares, passando pelo capitão/coronel/brigadeiro (riscar as opções
desactualizadas) Otelo, muitas "personalidades" que a imprensa e os noticiários
escutam com trémula atenção caracterizam-se pela geral incapacidade em proferir
qualquer desabafo que não roce o completo absurdo. Ignoro se o estilo é convicto
e as "personalidades" são assim infantis, ou se o estilo é simulado e as
"personalidades" se esforçam por descer ao nível intelectual que atribuem às
respectivas audiências. Certo é que estas insignificâncias dizem imenso acerca
do país que temos.
Uma coisa é a inevitabilidade geográfica da pequenez. Outra coisa é a
inclinação económica para a incúria. Uma terceira coisa é a tendência mental
para o desarranjo. No mínimo, uma destas seria escusada. E, já agora, a
candidatura do dr. Menezes, campeão de obras e dívidas, também
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