Artigo de Alberto Gonçalves
Numa altura em que quase toda a gente parece desorientada face à situação
nacional, a excepção é a CGTP, que apresentou dez medidas ("urgentes" e sem
dúvida sinceras) para combater o desemprego
Em resumo, a CGTP quer: melhorar os salários e as prestações sociais; 35
horas semanais ("sem redução de salário"); políticas de promoção do "direito ao
trabalho e do trabalho com direitos"; Revitalização do Tecido Produtivo (com
maiúsculas, não imagino porquê); programas de "gestão preventiva" que evitem os
despedimentos; efectivar todos os "falsos recibos verdes"; "abandonar a intenção
de reduzir o número" de funcionários públicos; permitir a contratação de novos
funcionários públicos; manter os subsídios de desemprego enquanto durar a crise;
proibir a redução de benefícios sociais aos desempregados; impedir o
voluntariado aos destinatários do rendimento mínimo; proteccionismo económico e
economia de substituição; criar um imposto extraordinário sobre as empresas;
pleno emprego.
É verdade que o último desígnio torna redundantes os anteriores, mas a CGTP
não é famosa pelo rigor argumentativo. É também verdade que, bem espremidas, as
medidas são mais do que dez, mas a CGTP nunca se notabilizou pela exactidão nas
contas. De qualquer forma, eis um programa que inevitavelmente retiraria o país
do buraco actual - e o depositaria na Fossa das Marianas. Aliás, caso fossem
aplicadas metade das medidas propostas pela CGTP, Portugal deixaria de existir
em poucos meses. Ou existiria apenas na medida em que Cuba existe, fora os
charutos e o mar cálido.
Dito isto, longe de mim sugerir que os delírios do PCP, perdão, da
confederação sindical são inúteis. No mínimo, os delírios servem de contraponto
às políticas do Governo, as quais por contraste ganham um espantoso, e no fundo
injustificado, ar de sensatez. Se já é absurdo que a despesa estatal não
diminua, a CGTP exige claramente o respectivo aumento. Se já não se suporta a
carga fiscal, a CGTP reivindica com frontalidade a respectiva subida. Se já nos
assustamos com os níveis do desemprego, a CGTP propõe, ainda que nas
estrelinhas, o desemprego absoluto.
Antes solução nenhuma do que a final. Para os senhores que nos tutelam, a
utilidade da CGTP é em suma idêntica à da pneumonia perante a gripe: mostrar
que, por mal que isto esteja, haveria sempre quem nos deixaria bastante pior.
Após contemplar o confrangedor Governo que escolheu, o cidadão médio volta-se
para a esquerda e percebe que há escolhas mais aterradoras. Se uma mói, a outra
mata. Ou mataria, se pudesse.
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