Artigo de Alberto Gonçalves
Embora escreva mal o próprio nome, a Es.Col.A é uma excelente ideia. Imaginem uma escola primária desactivada que volta ao activo graças ao empenho de uma série de autoproclamados anarquistas empenhados em autogerir o espaço a meias com a autodesignada comunidade local. Claro que a "comunidade" exclui os moradores das redondezas que não aceitam a ocupação, claro que a ocupação é ilegal e claro que os "anarquistas" julgam que anarquia significa sobrepor as regras deles às regras gerais, mas mesmo assim a coisa é linda.
A coisa passa-se na Fontinha, no Porto, e na prática consta de sessões de hip-hop, iniciação aos clichés revolucionários, cursos de ioga, mostra de documentários acerca do drama palestiniano, culto do vegetarianismo, desvinculação das normas de higiene burguesas e, aposto, aprendizagem dos benefícios medicinais da marijuana. Uma maravilha, portanto.
Infelizmente, o malvado "sistema" costuma reagir mal às utopias dissidentes e, sem surpresas, a autarquia deu ordem de despejo aos "anarquistas". Felizmente, os "anarquistas" responderam à altura, isto é, através de um vídeo do grupo Anonymous posto a circular esta semana. O Anonymous são aqueles moços que sem querer usam máscaras de um famoso conspirador ao serviço do Vaticano e que, de propósito, decidiram defender o mundo dos que discordam do mundo que eles defendem. O vídeo é um primor.
Com sotaque do Brasil, fluência de um GPS e gramática de um chimpanzé desenvolvido, a voz de uma senhora exalta o "solidário" projecto da Fontinha, que considera contribuir "para um melhor desenvolvimento social e intelectual das crianças", e ataca Rui Rio, que reputa de incapaz, demagogo e desprovido de inteligência - provavelmente porque não frequentou na idade devida os workshops da Es.Col.A. Em seguida, acusam a câmara portuense de "antidemocracia pura". A terminar, com a valentia que caracteriza uma seita de rosto coberto, o Anonymous ameaça explicitamente o dr. Rio: "Não nos obrigue a ser mais específicos."
Aqui chegado, irrompi em aplausos, o que afligiu a minha mulher e a levou a perguntar se estava tudo bem. Estava tudo óptimo: eu é que me entusiasmo com todos os combates em prol da autêntica democracia, um regime nas mãos de seitas clandestinas, milícias de valentes que escondem o rosto, fanáticos que (cito) não admitem que "um pequeno grupo de senhores dê ordens contra a satisfação da população local" e maluquinhos que lançam ultimatos a cidadãos eleitos pela pífia vontade popular. Naturalmente, a única vontade respeitável é a dos maluquinhos, e isso aprende-se na Es.Col.A.
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