domingo, 8 de novembro de 2009

Simplesmente Indefensável

Artigo de Rui Crull Tabosa
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Dia 9 de Novembro completam-se 20 anos sobre a data da queda do Muro de Berlin. O Muro da vergonha foi construído em 1961, com o extraordinário argumento de que serviria para defender a Alemanha de leste, ocupada pela União Soviética, da Alemanha e do Ocidente livres... O Muro tinha cerca de 66 km de gradeamento metálico, mais de três centenas de torres de observação, 127 redes metálicas electrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para cães de guarda. Ao longo de 28 anos nenhuma pessoa saltou de Berlim ocidental para o lado de lá do Muro. Ao longo de 28 anos estima-se que morreram 192 pessoas a tentar saltar do lado de lá do Muro para Berlim ocidental. Ao longo de 28 anos, milhões de famílias, de amigos e de europeus viveram separados uns dos outros, por decisão da ditadura comunista imposta à parte ocupada da Alemanha. Entre 1949 e 1989 calcula-se, também, que cerca de 75 mil alemães foram presos sob a acusação de deserção da República, ou seja, de arriscarem fugir da antiga Alemanha de Leste apenas para tentarem viver em liberdade. Perante esta realidade tenho a maior dificuldade em perceber que alguém possa ainda defender o antigo bloco de leste, ou seja, as ditaduras comunistas que se abateram sobre metade da Terra. Compreendo e concordo com as críticas que muitas vezes se fazem ao sistema capitalista, não raro gerador de injustiças e potenciador de egoísmos ilegítimos. Mas como aceitar uma doutrina que na sua génese rejeita a existência da propriedade privada e propugna a luta de classes como instrumento de destruição da presuntiva ordem burguesa? Como defender uma ideologia que, no fundo, sinceramente, não se revê no pluralismo político, antes preconiza a ditadura do proletariado, na qual, evidentemente, não haveria eleições livres ou justas? Que argumento se pode aduzir em defesa de regimes que, entre inúmeros outros crimes contra a Humanidade, construíram muros como o de Berlim, para só dar o exemplo que aqui nos ocupou? A verdade é que em nenhum regime comunista as pessoas alguma vez puderam viver livremente. Não porque esses regimes concretizassem defeituosamente a doutrina política que os enformava, mas, precisamente, porque o comunismo tem uma génese política anti-democrática e é intrinsecamente incompatível com o conceito de Liberdade.

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