Um homem vai ao correio, faz o que tem a fazer e, à saída, leva um tiro de caçadeira. Morre na rua, enquanto espera por assistência. Pode acontecer a qualquer um estar no lugar errado à hora errada, pensamos, pesarosos. Mas passamos adiante. Os assassinos tinham um plano: assaltar a estação dos correios. Viram o homem a sair, confundiram-no com um polícia por causa da roupa que vestia, calculam testemunhas, e dispararam à queima-roupa. Abandonaram o projecto de assalto e seguiram a pé, talvez a passo, sem que ninguém os tenha incomodado. Até hoje. Isto aconteceu na quarta-feira, dia em que ficámos a conhecer a primeira sentença do 'caso Noite Branca'. Tendo o tribunal dado como provado que um indivíduo matou outro a tiro, vai o primeiro condenado a 12 anos e meio de prisão. Metade da pena, portanto. Como o homicídio foi obra de dois cúmplices, um deles assassinado posteriormente, dá-se por cumprida a outra metade, ou, pelo menos, é isso que se dá a entender. Quem vai agora saber qual das seis balas matou Nuno Gaiato? Para quem ajuíza de fora, as contas são outras: 12 anos e meio, substancialmente reduzidos se houver bom comportamento, é quanto se paga por assassinar alguém. Não se pode dizer que esteja alto o preço de uma vida. Por pouco se mata em Portugal, ou mesmo por nada, como se viu no caso de Oeiras. Mas isso que importa se, em matéria de crime violento e perante os piores números da década, o ministro da Administração Interna exibe a maior auto-satisfação pela sua obra e insiste em desdramatizar? O argumento de que o crescimento de 2008 'apenas' correspondeu à descida que se verificara em 2007, esse então é assombroso. Significa que, se se anularem todos os ganhos civilizacionais conquistados até hoje, podemos regressar à barbárie sem que o ministro encontre razões para se inquietar.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
O Preço De Uma Vida
Um artigo de Fernando Madrinha.
Um homem vai ao correio, faz o que tem a fazer e, à saída, leva um tiro de caçadeira. Morre na rua, enquanto espera por assistência. Pode acontecer a qualquer um estar no lugar errado à hora errada, pensamos, pesarosos. Mas passamos adiante. Os assassinos tinham um plano: assaltar a estação dos correios. Viram o homem a sair, confundiram-no com um polícia por causa da roupa que vestia, calculam testemunhas, e dispararam à queima-roupa. Abandonaram o projecto de assalto e seguiram a pé, talvez a passo, sem que ninguém os tenha incomodado. Até hoje. Isto aconteceu na quarta-feira, dia em que ficámos a conhecer a primeira sentença do 'caso Noite Branca'. Tendo o tribunal dado como provado que um indivíduo matou outro a tiro, vai o primeiro condenado a 12 anos e meio de prisão. Metade da pena, portanto. Como o homicídio foi obra de dois cúmplices, um deles assassinado posteriormente, dá-se por cumprida a outra metade, ou, pelo menos, é isso que se dá a entender. Quem vai agora saber qual das seis balas matou Nuno Gaiato? Para quem ajuíza de fora, as contas são outras: 12 anos e meio, substancialmente reduzidos se houver bom comportamento, é quanto se paga por assassinar alguém. Não se pode dizer que esteja alto o preço de uma vida. Por pouco se mata em Portugal, ou mesmo por nada, como se viu no caso de Oeiras. Mas isso que importa se, em matéria de crime violento e perante os piores números da década, o ministro da Administração Interna exibe a maior auto-satisfação pela sua obra e insiste em desdramatizar? O argumento de que o crescimento de 2008 'apenas' correspondeu à descida que se verificara em 2007, esse então é assombroso. Significa que, se se anularem todos os ganhos civilizacionais conquistados até hoje, podemos regressar à barbárie sem que o ministro encontre razões para se inquietar.
Um homem vai ao correio, faz o que tem a fazer e, à saída, leva um tiro de caçadeira. Morre na rua, enquanto espera por assistência. Pode acontecer a qualquer um estar no lugar errado à hora errada, pensamos, pesarosos. Mas passamos adiante. Os assassinos tinham um plano: assaltar a estação dos correios. Viram o homem a sair, confundiram-no com um polícia por causa da roupa que vestia, calculam testemunhas, e dispararam à queima-roupa. Abandonaram o projecto de assalto e seguiram a pé, talvez a passo, sem que ninguém os tenha incomodado. Até hoje. Isto aconteceu na quarta-feira, dia em que ficámos a conhecer a primeira sentença do 'caso Noite Branca'. Tendo o tribunal dado como provado que um indivíduo matou outro a tiro, vai o primeiro condenado a 12 anos e meio de prisão. Metade da pena, portanto. Como o homicídio foi obra de dois cúmplices, um deles assassinado posteriormente, dá-se por cumprida a outra metade, ou, pelo menos, é isso que se dá a entender. Quem vai agora saber qual das seis balas matou Nuno Gaiato? Para quem ajuíza de fora, as contas são outras: 12 anos e meio, substancialmente reduzidos se houver bom comportamento, é quanto se paga por assassinar alguém. Não se pode dizer que esteja alto o preço de uma vida. Por pouco se mata em Portugal, ou mesmo por nada, como se viu no caso de Oeiras. Mas isso que importa se, em matéria de crime violento e perante os piores números da década, o ministro da Administração Interna exibe a maior auto-satisfação pela sua obra e insiste em desdramatizar? O argumento de que o crescimento de 2008 'apenas' correspondeu à descida que se verificara em 2007, esse então é assombroso. Significa que, se se anularem todos os ganhos civilizacionais conquistados até hoje, podemos regressar à barbárie sem que o ministro encontre razões para se inquietar.
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