quinta-feira, 23 de abril de 2009

O Comunismo do Bloco de Esquerda


Não, não é propaganda do PCP, é propaganda do comunismo. Da coisa em si. Nem o PCP faz isto tão bem como a extrema-esquerda. Bastou aparecer a crise para o BE deixar cair a cosmética radical chique e mostrar-se como é: uma organização comunista, que usa em tempos difíceis do mesmo tipo de posições políticas e ideológicas do comunismo tradicional e que as transforma numa demagogia populista com algum sucesso. É que um dos grandes instrumentos clássicos do comunismo, que vem mais de Proudhon do que de Marx, é atacar a propriedade em nome da “moral”. E essa é a chave de toda a propaganda do BE. Veja-se este cartaz diz que se deve dar a “todos o que é de todos”. Na realidade, é esta a frase chave do cartaz, mesmo apesar das referências aos “lucros” da GALP e da EDP, curiosamente duas empresas que são mais de “todos” do que as outras porque, ou são empresas públicas ou com golden share, onde a última palavra é a do Estado. Os “lucros” são já parcialmente de “todos”, mas não é isso que quer o BE. O que o BE de esquerda quer é que a energia seja de “todos”, nacionalizada, nossa, como quererá pelo mesmo argumento, a àgua, o ar, as florestas, as minas, o mar, o solo urbano, as terras. Não é a terra de todos, a velha reivindicação anarco-comunista? Porque é que a “energia” há-de ser de todos e a terra não? E as empresas que tem “lucro”, que é para aquilo que existem na economia de mercado, e não “podem despedir”? Não devem ser de “todos”? Não seria melhor nacionalizá-las, distribuir os lucros e ser o estado a garantir emprego a todos, haja ou não haja actividade económica, pela razão “moral” do “direito ao emprego”? Como é um comunismo sem URSS, embora tenha Cuba, Chávez e Morales, é um comunismo mais próximo das suas fontes na reacção ao liberalismo. É muito oitocentista, mas é. E mesmo quando os argumentos da propaganda do BE começam muito atrás, numa revolta populista e “moral” contra os desmandos dos “banqueiros”, eles caminham rapidamente para qualquer proibição (“quem tem lucros, não pode despedir”), qualquer repressão (taxar a 90% os rendimentos dos gestores), para acabar nos Sovkhozes e no Combinado Siderúrgico de Magnitogorsk. De polícias do pensamento já eles tem treino, mas algures pelo meio haveria também outras polícias, se fosse para ser a sério.



É inteiramente legítimo como propaganda, cuja liberdade a democracia acautela, do mesmo modo que devia acautelar a do PNR, igualmente extremista. Mas, como extremismo, se desse origem a actos seria péssimo para a democracia porque é estruturalmente incompatível com o funcionamento de uma democracia parlamentar e de um estado de direito numa economia de mercado.
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Um artigo de José Pacheco Pereira

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