EUA, 1972. Shirley Chisholm tentava entrar para a história ao concorrer às primárias do partido Democrata. Nunca uma mulher o tinha feito e a Shirley não lhe facilitaram a vida.
Impedida de participar em debates televisivos com os outros candidatos, teve de interpor uma ação em tribunal para ser tratada como os seus companheiros de partido, homens. Conseguiu apenas o direito a discursar na televisão, e só por uma única vez.
Shirley foi a votos em 12 estados e conquistou 10% dos delegados ao congresso. Negra, filha de dois imigrantes, recebeu o epíteto de “Fighting Shirley”.
Foram precisos 44 anos para que outra mulher, desta vez branca, chegasse onde Shirley tentou: a nomeação do partido Democrata para a corrida à Casa Branca. Quem o conseguiu foi Hillary Clinton, em 2016. Obteve mais votos nominais do que o adversário, Donald Trump, mas falhou a eleição.
Esta madrugada, em Chicago, Clinton passou o testemunho a Kamala Harris, que tentará ser a primeira mulher a chegar à presidência dos EUA. “Estamos tão perto de o conseguir, de uma vez por todas”, disse Hillary, numa referência clara ao teto de vidro que não conseguiu quebrar.
“Gostava que a minha mãe e a mãe de Kamala pudessem ver-nos. Elas iam dizer-nos: ‘Continuem!’”, afirmou Hillary Clinton, fazendo levantar toda a plateia que repetiu: “Keep going! Keep going!”
Ontem, o New York Times citava Philippe Reines, antigo conselheiro de Clinton: “Nada faria Hillary Clinton mais feliz do que ver a primeira na história bater o pior da história.”
Kamala Harris acabou por subir ao palco de Chicago, de surpresa, para largar a frase que já representa a sua candidatura: “When we fight, we win”.
Artigo de Rita Ferreira (Editora de Sociedade do Jornal Expresso)
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