Artigo de Vítor Raínho
É a grande balbúrdia e ninguém se entende. Há universidades que decidem fechar, enquanto outras continuam abertas. Há câmaras que encerram ginásios, piscinas ou bibliotecas, e outras mantêm tudo aberto. Há teatros e cinemas às escuras enquanto, noutras localidades, os espetadores podem continuar a frequentar esses locais.
Há algum dado concreto – se excetuarmos os casos de Lousada e Felgueiras – para as decisões serem tão díspares? Não. O que se passa é que o país não aprendeu com os bons exemplos – Macau – nem com os maus – Itália. Chegámos ao ridículo de mandar para casa milhares de alunos, que aproveitaram essa liberdade para fazerem festas uns com os outros e com mais alguns.
Os casos de Lousada e de Felgueiras são sintomáticos. Quem devia estar de quarentena anda a passear a sua classe pelas ruas das duas localidades, e, quem sabe, noutras zonas do país. Não sou técnico de saúde, mas não é preciso ser um génio para perceber que há alguma coisa que não bate certo. Em Macau, onde não há nenhum caso positivo – houve dez, mas passaram a negativo –, ninguém entra na região sem ser controlado.
Quem atesta que não esteve em nenhuma zona “contaminada” mas passou por países onde há casos conhecidos, mesmo que poucos, é sujeito a um despiste de seis a oito horas em que lhe é medida a temperatura de duas em duas horas. Quem saiu de um dos países críticos – China, Coreia do Sul, Japão, Itália, Espanha, França e Alemanha – fica obrigatoriamente de “catorzena”, leia-se 14 dias isolado.
Já em Itália é a tal balbúrdia que se estende a Portugal. Por cá, quem vem de algum desses países não é sujeito a qualquer controlo nos aeroportos. Isto faz algum sentido? Um exemplo: Ronaldo saiu de Turim e pôde ir ver a mãe ao hospital. O jogador, com a melhor das intenções, quis ir dar conforto à sua progenitora. Acontece que D. Dolores está hospitalizada e, como tal, não devia receber qualquer visita de quem quer que fosse que tenha estado num país de risco. Esta história é bem o retrato de como estamos a enfrentar o drama do coronavírus. Com os pés.
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