Artigo de Henrique Monteiro
Esta é uma crónica cheia de dúvidas. Nunca tive especial encantamento pelo Presidente da França - pelo contrário apostei que ele iria fazer o mesmo do que os outros líderes europeu no momento em que a esquerda portuguesa se empolgava com o seu programa de mudança - nem nunca me interessaram sobremaneira as andanças 'casanovísticas' dos responsáveis políticos. De toda a história, o que mais lamentável me parece é a falta de maturidade de um Chefe de Estado que não percebe que, aos 59 anos, é o poder - e não o seu charme pessoal - o principal afrodisíaco para uma atriz de 41 anos. Além de que, para cúmulo, não recusa encontrar-se com a amante na casa de uns mafiosos da Córsega, aparentemente já identificados e anteriormente condenados, colocando-se, assim, de certo modo nas mãos deles. Não me custaria a crer que tivessem sido os próprios serviços secretos franceses a acabar com esta loucura.
Também me parece pouco elegante a forma como Valérie Trierweiller (48 anos, companheira de Hollande) veio a saber do caso do seu homem com a atriz Julie Gayet (41 anos) - e o modo pequeno-burguês, de ópera do séc. XIX, que a leva a dar entrada num Hospital, assim como os conselhos de Segolène Royal, primeira companheira (desculpem o termo, não gosto dele, mas Hollande nunca foi casado) e mãe dos filhos do Presidente. Digamos que aqui não há valores tradicionais republicanos, pelo contrário, tudo isto parece próprio da alta nobreza decadente que os antepassados políticos do atual Presidente denunciavam. Mas adiante, que a mim ensinaram-me a frase - muito apropriada a estas situações - "não julgues, para não seres julgado".
Mas onde me assaltam as dúvidas é aqui: este assunto passou a ser notícia, não tenho hesitações, e qualquer jornal do mundo o publica - dos mais sérios aos mais escandalosos. Mas é relevante? Valia a pena revelá-lo? Não estaremos a contribuir para uma sociedade de 'nerds' ou 'betinhos' onde apenas homens e mulheres sem pecado nem vício podem ter relevo? Caramba, o próprio Santo Agostinho teve os seus divertimentos antes de se entregar à castidade (coisa que com os comprimidos vai ocorrendo cada vez mais tarde)! Sabemos de Roosevelt e de Kennedy (escuso de invocar Clinton, porque o desplante de fazê-lo no gabinete de trabalho já me parece excessivo). Sabemos e soubemos de líderes portugueses que - como jornalistas - nenhum, nem os das revistas chamadas cor-de-rosa, perseguiu. Não achámos relevante (a relação de Sá Carneiro e Snu Abecasis foi assumida pelos dois e não revelada por jornais).
Um caso destes torna um líder pior? Há Berlusconi, é certo, mas que se saiba Hitler foi fiel e Salazar deve ter sido pouco menos do que casto. Isto fazia deles melhores?
Até onde vai a cusquice em nome da Pátria? Não vejam aqui qualquer sentimento de pena em relação a Hollande. Um patarata é um patarata e ele até nisto foi patarata. Mas apenas uma reflexão para começo de conversa sobre limites e obrigações. Limites dos jornalistas e obrigações de políticos.
Por mim, defendo a moral e os bons costumes, mas odeio o moralismo.
PS - A prova que a frase "um homem não chora" não faz o mínimo sentido está no discurso de ontem de Ronaldo, depois de ganhar a Bola de Ouro. Um homem pode chorar à vontade. Eu quase chorei só de o ver chorar.
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