O adjectivo mais divertido para qualificar o movimento de pândegos que calam
e insultam governantes ao som de Grândola, Vila Morena é "espontâneo".
Aparentemente, os pândegos não se conhecem de lado nenhum, por sorte
encontram-se em eventos que contam com a presença de ministros e, num fenómeno
que desafia a lei das probabilidades, desatam a entoar a referida cantilena e a
gritar "Fascistas!" em uníssono.
Notável, não é? Os pândegos podiam não se ter cruzado, podiam ter ido à bola
ou ao circo, podiam ter cantarolado um sucesso de Shakira e gritado "Olha o
robalo fresquinho!". Mas não. Uma e outra e outra e outra vez acertaram na hora,
no local, na cantilena e na palavra de ordem. Tudo, claro, de forma espontânea.
Desde que um gémeo comeu ostras e o irmão apanhou uma intoxicação alimentar que
não havia notícia de coincidência assim. Nem de patranha assado.
A tentativa de sublinhar a "espontaneidade" destes episódios não é inocente.
O facto de os incidentes serem encomendados (e convocados via Facebook) pelos
grupinhos do costume, especialistas em recorrer à tolerância do regime para
treinarem os sonhos do derrube do regime, não cai tão bem. Tratar a Grândola e
os insultos como obra do acaso confere à coisa uma aura inevitável e genérica.
No fundo, sugere-se que o povo em peso ciranda por aí a silenciar "fascistas"
com a sua indignação
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