Artigo de Henrique Monteiro
Não sei se a ideia de Hollande e do seu ministro do Interior Manuel Valls é combater a enorme ascensão do Front National, partido agora de Marine Le Pen. Mas seja qual for a ideia, é para mim repugnante que um partido que se afirma socialista possa ter um ministro que afirma que romenos, ciganos e búlgaros devem ir para casa, ou que deter prender uma jovem cigana há muitos anos ilegalmente em França e integrada numa escola do país à frente dos seus próprios colegas, durante uma visita de estudo.
Não quero entrar na habitual discussão, mas imaginem que tinha sido o governo alemão de Merkel a ter afirmações e ações como estas. O que não diria da chefe do governo de Berlim, que já á apelidada de nazi (acrónimo de nacional socialista).
Curiosamente, a França conseguiu vender-se ao mundo como a pátria das liberdades (Ainda que os seus chefes militares tenham vergonhosamente capitulado perante Hitler, à exceção dos generais De Gaulle, Leclerc e poucos mais, mas não o herói da I Grande Guerra, o marechal Pétain, primeiro dos colaboracionistas que permitiu a divisão da França entre a Alemanha e o regime fantoche de Vichy).
Pois é desta 'pátria das liberdades', deste Governo que era a esperança da esquerda portuguesa (e de outras) que vêm exemplos dos mais preocupantes de um nacionalismo proto-fascista que o próprio líder do PSF (honra lhe seja) já se viu obrigado a criticar.
Depois de Viktor Orban, na Hungria, que Bruxelas olha com demasiada complacência, da hipótese do Front National vencer as Europeias do ano que vem em França, da Aurora Dourada em Atenas e do mais que por aí vai, não sei o que falta para os partidos e personalidades verdadeiramente democratas, liberais e cosmopolitas compreenderem que é necessário um programa forte e comum contra este fechamento nacionalista. E que isso não é feito nos corredores de Bruxelas, nas costas dos eleitores, como até agora, aprovando diretivas, mas com trabalho de baixo para cima, integrador, humanista e que respeitando as diferenças regionais e nacionais, sublinhe as culturas e instituições comuns, sem preconceitos e menos ainda demagogias.
Eis algo urgente... e tão importante como a crise económica. Porque se nada fizerem é mais um descalabro.
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