terça-feira, 29 de outubro de 2013

O Guião

Artigo de Alberto Gonçalves

Ora então é assim. Em Fevereiro de 2013, Pedro Passos Coelho anunciou que o guião para a reforma do Estado ficaria a cargo de Paulo Portas e seria "apresentado muito proximamente". Em Maio de 2013, o dr. Portas prometeu que o guião para a reforma do Estado seria apresentado no final de Junho. Em Setembro de 2013, o dr. Passos Coelho assegurou que o guião para a reforma do Estado seria apresentado no final desse mês. Na semana passada, o dr. Passos Coelho garantiu que o guião para a reforma do Estado seria apresentado esta semana. Esta semana, o ministro Marques Guedes jurou pelas alminhas que o guião para a reforma do Estado será apresentado, ou pelo menos aprovado, na semana que vem.
É de suster a respiração. É, também, um duro golpe nos cépticos que desconfiavam da capacidade do Governo em - lá está - reformar o Estado. Não só a reforma está a caminho, como o tempo aplicado na sua elaboração mostra que se trata de um reformismo a sério. Governantes menores teriam rabiscado meia dúzia de tópicos à mesa do restaurante e, no dia seguinte, começado a mexer à pressa nas excrescências estruturais da administração pública e, além de poupar uns trocos, feito asneira. O dr. Portas não. O dr. Portas estuda, reflecte, pondera, analisa, matuta e disseca antes de lançar cá para fora um documento que, não duvido, assinalará o início da nossa recuperação, económica e moral. Entretanto, não se poupou nada e continuamos falidos, mas o que podem as agruras de hoje contra o progresso de amanhã? "Amanhã" na acepção mítica, bem entendido, provavelmente o momento em que a apresentação do guião iluminará uma nação ansiosa. Já imaginaram se não houvesse guião e o Governo actuasse de improviso?
 
 

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