O presidente do Sporting fez questão em sentar-se ontem no banco dos suplentes - num novo erro de estratégia comunicacional, somado a tantos outros que tem cometido a um ritmo alucinante.
Ficou assim evidente aos olhos de todos que está divorciado da massa adepta, que o insultou pela primeira vez e fez apelos públicos à sua demissão.
Ficou evidente que está divorciado da equipa - daí a sua atitude gélida em ambos os golos leoninos, como se não estivesse a torcer pela vitória do clube, algo inaudito.
Ficou ainda evidente que está divorciado da equipa técnica, exibindo uma crise de lombalgia no preciso instante em que Jorge Jesus mobilizava os jogadores para darem em conjunto a volta ao estádio, merecendo uma entusiástica ovação dos espectadores.
A comunicação vive de símbolos - e este foi desastroso para um dirigente que adora exibir-se na ribalta.
Mas o maior sintoma deste divórcio ocorreu depois, quando fez questão de se deslocar à sala de imprensa, sozinho, para falar durante quase meia hora do seu tema preferido: ele próprio. Misturando - como sempre faz - alusões à sua vida familiar com os problemas do clube. Como se não lhe bastasse o texto com mais de dez mil caracteres que publicara três horas antes do desafio de Alvalade na sua rede social favorita com críticas ferozes a jogadores muito acarinhados pela massa adepta leonina - desde logo os campeões europeus Rui Patrício e William Carvalho - e em que aludia a si como "o Presidente".
Falou imenso e não disse nem escreveu uma só palavra para unir, congregar ou mobilizar: só para dividir, incendiar e lançar novos anátemas, em círculos cada vez mais concêntricos. Visando desta vez os restantes membros dos órgãos sociais e os próprios adeptos, incluindo muitos daqueles que o elegeram duas vezes e perante os quais ele forçosamente responde.
Podia ter aprendido com Jorge Jesus, que logo a seguir - também na sala de imprensa - falou pouco mas disse o essencial. "A minha responsabilidade é defender os interesses do Sporting. Sei que o barómetro de qualquer clube são os jogadores. Os clubes crescem em função dos jogadores - depois há o treinador, há os presidentes... Jogadores e massa associativa são as duas pedras fundamentais, uns dentro do campo e outros fora do campo."
Quando Jesus dá lições de bom senso, realismo e humildade ao presidente, fica tudo dito sobre a perturbante derrapagem emocional de Bruno de Carvalho, que deixou de ser lesiva só para ele. Já se tornou também lesiva para o Sporting.
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