segunda-feira, 24 de julho de 2017

O Governo Devia Cair. Ponto

Artigo de Henrique Raposo



Henrique Raposo


A tempo e a desmodo
Henrique Raposo
Governo devia cair. Ponto


O governo está a mentir de forma direta ou indireta. O Presidente não não diz nada? Foto Reuters


O governo está a mentir de forma direta ou indireta. O Presidente não não diz nada? Foto Reuters
Parece impossível, mas é verdade. Vivemos um tempo mais obscuro e imoral do que o tempo de Sócrates. José Sócrates mentiu como ninguém, mas só mentiu sobre números e negociatas (TVI). Nunca mentiu sobre o número de mortos de uma tragédia; nunca derramou a novilíngua sobre cadáveres. Essa façanha pertence a António Costa, a personagem que está há um mês a “gerir” a morte de dezenas de portugueses. Parece impossível, mas é verdade: o poço tem mais um nível; na relação com a verdade, o governo de Costa é ainda pior do que o governo de Sócrates. Tendo em conta o que “Expresso”, “i” e o “Público” revelaram nos últimos dias, uma democracia séria só tinha uma coisa a fazer neste momento: derrubar o primeiro-ministro que deturpa a verdade sobre a maior tragédia em décadas, derrubar um governo que desonra a democracia ao fazer o mesmo que o Estado Novo fez em 1967 - criou tabus atrás de tabus sobre o sucedido.
Ocultar o número de mortos de Pedrógão para assim não prejudicar a imagem do Governo e da proteção civil já está para lá da amoralidade maquiavélica da política; é um ato imoral
Não se trata da vírgula do défice, trata-se do respeito pela vida e pela morte. Ocultar o número de mortos para assim não prejudicar a imagem do governo e da proteção civil já está para lá da amoralidade maquiavélica da política; é um ato imoral. Não permitir a inclusão de outras vítimas além das 64 oficiais, porque o governo determinou que o “64” é o número final é imoral. Tal como é imoral a linguagem do governo e da proteção civil para excluir “vítimas indiretas” como pessoas atropeladas no meio daquele caos. Se recorrêssemos à linguagem imposta pela geringonça para avaliarmos o número de mortos de Pedrógão (só contam queimados e asfixiados), teríamos de dizer que o famoso “falling man” do 11 de Setembro não morreu devido ao atentado de Atta. Só o facto de estarmos aqui a perder tempo a desmontar esta novilíngua é em si mesmo uma situação abjeta.
A novilíngua socrática, que já era uma importação da novilíngua dos radicais do PCP e BE, contaminou o PS e o Estado por inteiro, atingindo agora máximos históricos de indecência. No terreno, as pessoas sempre desconfiaram das narrativas e dos números apontados pelo governo. Agora o “i” indica uma lista de 73 mortos confirmados pelas famílias. E há relatos que chegam aos 100, 90, 80. Seja como for, e pegando apenas na investigação do “i”, pelo menos mais nove pessoas não foram incluídas na contabilidade porque – naqueles dias quentes - isso não interessava a Costa, à ministra, à proteção civil. E agora, em vez de reconhecerem o erro, atacam os jornalistas?
Perante tudo isto, continuará o Presidente no silêncio? Vamos continuar assistindo ao apodrecimento da palavra do primeiro-ministro, do Governo, da ministra? Vamos continuar debaixo desde fedor? Não é isto um irregular funcionamento das instituições?





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