segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Rating: de regresso e sem vergonha

Standard & Poor's anunciou que pode vir a rever em baixa o rating da República, pois Portugal caminha para uma recessão com derrapagem do défice orçamental. A isto, que é uma evidência para todos os países europeus, a S&P junta-lhe razões políticas (o PS pode não ter maioria absoluta nas eleições legislativas) e razões próprias (o elevado peso da dívida e os grandes desequilíbrios), acompanhadas da receita: moderação salarial e aposta na educação.Quanto às receitas, estamos conversados. Se alguém encontrar algum texto da S&P que não recomende moderação salarial em Portugal, dá-se um doce. E se não disser também que é importante apostar na educação, dá-se dois doces. Quanto à análise, em primeiro lugar há factores idênticos para vários países: recessão e degradação orçamental. A razia vai da Inglaterra à Alemanha, passando pela França. Mas convém lembrar que, em relação ao custo da dívida pública da Alemanha de taxa fixa a 10 anos, a Grécia paga mais 200 pontos, Irlanda mais 150 e Itália mais 130, contra 95 a 100 pontos da dívida portuguesa (e 90 da Áustria e Bélgica e 85 da Espanha...).
Em segundo, desconhecia-se que agora a S&P associa alterações no rating a situações políticas que ainda não aconteceram. Quem garante à S&P qual é o resultado das eleições legislativas portuguesas? Tem uma bola de cristal? Um modelo econométrico que desta vez é que não falha? Ou joga os búzios? Em terceiro, a S&P deve ter-se esquecido do rating que atribuía à Islândia no dia anterior ao país ter entrado em falência. E os ratings que atribuía à Lehman Brothers, à AIG e por aí fora? Eram altos, muito altos - imediatamente antes de a primeira falir e de a segunda ter necessitado de uma forte intervenção governamental para sobreviver...Por isso, se fosse atribuído um rating à empresa de rating S&P ele seria baixo, muito baixo. Triplo B negativo. Ou menos. O que é lamentável é que, mesmo depois do clamoroso falhanço que as empresas de rating tiveram nesta crise, continuam olimpicamente a julgar países e empresas. E a influenciar negativamente a vida de milhões de pessoas.
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Um artigo de Nicolau Santos

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