terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Ascenção Da Demagogia

Excerto de um artigo de José Pacheco Pereira (os links são meus)
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Os tempos estão férteis para os demagogos sob várias versões e debaixo de várias capas ideológicas, à esquerda e à direita. Este é um dos aspectos mais perigosos dos anos nefastos que vamos atravessar, porque será pela sua voz e pela sua acção que se incendiará o discurso político, que se destruirá a já débil capacidade da racionalidade do debate público. Os temas da demagogia são clássicos (dinheiro, corrupção, desigualdade, riqueza, etc.) e, em tempos sem futuro, os demagogos incentivam a raiva com proveito próprio. Aqui vão alguns exemplos.
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Francisco Louçã
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Francisco Louça é o exemplo mais acabado do demagogo radical, possuidor de um verbo inflamado e que não poupa as palavras que mais excitam. Às vezes, ao ouvi-lo, como aconteceu esta semana no Parlamento num discurso insultuoso contra Cavaco Silva, o melhor exemplo que vinha à minha cabeça era o de um daqueles políticos populistas do “Bible Belt”, ou de um dos mais excitados membros nas manifestações do Tea Party. Uma das coisas mais parecidas com a extrema-direita americana é esta extrema-esquerda portuguesa, que deita a sofisticação às malvas quando fala das mafias, dos gangues, dos criminosos, e estes são… banqueiros.
Quando lhe chamam “pregador” acertam num aspecto e falham noutro. De facto, Louçã está longe de ser um dos místicos que, como muitas vezes aconteceu na história do socialismo, usavam uma linguagem utópica e milenarista, uma versão laica do profetismo bíblico, para prometer aos proletários uma Jerusalém libertada do jugo da exploração. Essa tensão religiosa nada tem a ver com Louça.
Louçã é outra coisa: é um comunista que não se nomeia como tal. A sua visão do mundo é a do marxismo, a que se soma a experiência leninista e trotsquista, revista sob a capa de uma linguagem que substituiu o jargão terminológico clássico, por uma visão moralista da realidade. Louça é um táctico cínico, que se move bem nos meios da burguesia urbana intelectual radicalizada e menos bem nos meios dos trabalhadores. Esses são o terreno do PCP, muito menos demagógico e populista do que o Bloco de Esquerda.
Aquilo em que a classificação de “pegador” acerta é no facto de, por razões de utilitarismo político (e também de ocultação), nele se substituir a linguagem marxista da exploração por um discurso moralista em que o bem e o mal, o justo e o injusto, o certo e o errado, são usados para classificar o seu mundo e excluir o dos outros. Não há um átomo de tolerância no que diz, mas uma sucessão de proclamações, à Savonarola, dos males do mundo ferido pelos corruptos, pelos ladrões, pelos ricos, pelos poderosos. E isso é que é pregação, demagogia pura.

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