sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Gays" Pela Palestina

Artigo de Alberto Gonçalves
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É notável a quantidade de grupinhos subsidiários do Bloco de Esquerda que não se assumem enquanto tal. E não, ao contrário do que recomendaria o bom senso, não é por vergonha, mas para ocupar mais espaço do "debate" ou, como eles preferem, da "luta". Alguns dos grupinhos serão compostos apenas por uma ou duas criaturas. Outros, nem isso. As suas designações, sempre esdrúxulas, vão do Comité de Solidariedade com a Palestina à Frente de Combate à LesBiGayTransfobia, da Pobreza Zero ao SOS Racismo, da Associação de Amizade Portugal-Sahara Ocidental ao meu preferido, o Colectivo Mumia Abu-Jamal (é uma delícia imaginar que espécie de gente se junta no culto de um homicida).
De qualquer modo, os nomes constituem uma fachada. Essencialmente, os grupinhos do Bloco têm um só objectivo: promover acções de propaganda contra Israel. Às vezes as acções limitam-se à pequena demência, de que são exemplos as tentativas de boicote a um concerto de Leonard Cohen (que cantou em Telavive) ou do jogo entre o Benfica e o Hapoel (que é de Telavive). Às vezes as acções atingem a demência completa, de que é exemplo o protesto pelo patrocínio da embaixada israelita em Portugal a um Festival de Cinema Gay e Lésbico, que decorreu por estes dias em Lisboa.
Se apetece ceder a meia dúzia de graçolas a propósito de um festival de cinema sexualmente orientado, a graça maior está no facto de "activistas" alegadamente em prol dos direitos gay defenderem a Palestina, que formal e informalmente discrimina, tortura e mata os "pervertidos", e abominarem Israel, que faz dos seus homossexuais plenos cidadãos, acolhe os homossexuais alheios e em fuga e, não satisfeito, ainda paga exibições de fitas do género a milhares de quilómetros de distância. Não seria diferente se uma associação de perdizes reivindicasse o alargamento do período de caça.
Claro que, nesta história e em todas as histórias assim, os gays não passam de um pretexto descartável. Os gays, os transgénicos, as mulheres, os pobres, as minorias étnicas, os palestinianos, o Abu-Jamal e restantes "oprimidos", com ou sem aspas, são o meio que "justifica" o desporto favorito dos bandos em causa, chame-se-lhe anti-semitismo ou, para consumo público, "anti-sionismo". Numa época em que os vigilantes de serviço procuram "racistas", "fascistas" e "neonazis" em cada canto, espanta que não os descubram nas imediações do Bloco e da extrema-esquerda em geral, em Portugal os seus actuais e genuínos representantes.
Falta acrescentar que os organizadores do Festival de Cinema Gay e Lésbico tremeram face às pressões e anunciaram que, de futuro, ponderam recusar subsídios de Israel, uma mariquice que lhes fica a matar e abre portas para os apoios de Gaza, Síria, Líbia e esse lugar exótico onde a homossexualidade nunca existiu, o Irão. Irão longe.

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