sábado, 19 de dezembro de 2009

A "Justificação" Da Violência Sobre Berlusconi

Excerto de um artigo de José Pacheco Pereira
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Uma das coisas que é intrínseca à discussão na extrema-esquerda (portuguesa e não só) é a violência, e uma das evoluções dos últimos anos (portuguesa e não só) foi que para se tornar só “esquerda”, mesmo com qualificativos moralistas e de exibição de convicção para se distinguir do PCP como faz o Bloco, deixou de a praticar (à discussão). De vez em quando, confronta-se com a sua ambiguidade de fundo: propondo uma mudança social que ainda classifica timidamente de “revolucionária”, que não pode ser realizada por via parlamentar, fica refém de uma linguagem contraditória e muitas vezes apenas hipócrita, quando se defronta com qualquer incidente que implique a questão da violência. E, aqui, a hipocrisia tem dois sentidos: nuns casos, é porque, aceitando a inevitabilidade da violência, não o querem anunciar publicamente porque tal afectaria a fachada de respeitabilidade democrática, noutros é porque de facto já abandonaram a inevitabilidade da violência, são mais ou menos reformistas, e não querem assumi-lo após mais cento e cinquenta anos de tradição revolucionária da inevitabilidade da violência na “revolução”.Há dois anos o caso da invasão do campo do milho transgénico pelos “verdeufémias” e agora a agressão a Berlusconi voltaram a fazer vir ao de cima a questão da violência com todos os seus incómodos. E aí começa a polémica, agora mais entre blogues do que na luz do dia, desatenta que está a comunicação social que acha que só há extrema-direita e que não vê nunca que também há extrema-esquerda. No mais interessante blogue da esquerda portuguesa mais radical (o 5 Dias) coloca-se com clareza a justificação da agressão a Berlusconi, entre o “estava a pedi-las”, até ao acto do “povo” por interposta mão vingadora. Como é habitual nestas discussões, vem ao de cima, usando a pré-texto leninista que está por trás do seu discurso, a condenação dos “actos individuais de terrorismo” contrastando com a aceitação das “acções violentas de massas”. Mas a legitimação da violência revolucionária, “de classe”, seja qual for a designação, está explicita.

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