quinta-feira, 13 de julho de 2017

A Comunicação Social Que Temos:

Vasco Lobo Xavier no "Corta Fitas"

O texto sobre o qual escrevo é uma notícia do Observador. Foram retirados os negritos da notícia e a negrito vão só as minhas observações. Foram também corrigidas gralhas da notícia (pode ter-me escapado alguma e não mexi nas vírgulas erradas nem no “passo a expressão”).

Costa. Armas roubadas não representam perigo para a Segurança Interna – Título muito bonito, muito querido e sugestivo.

António Costa disse hoje que foi informado logo a seguir ao roubo do material militar em Tancos que este não aumentava o perigo para segurança interna, nem havia associação a grupos terroristas.
O primeiro-ministro afirmou esta terça-feira que foi informado ainda antes de ir de férias que o material militar roubado em Tancos, “com grande probabilidade”, não aumentava os riscos para a segurança do país ou para qualquer atividade terrorista, em Portugal ou no estrangeiro. Lança-granadas anti-carro roubados estavam marcados para abate.

Vamos lá ver. O PM foi informado disto antes de ir de férias?!? E o CEME esteve para mais de uma semana a falar de tudo e sem referir tal coisa? E o que quer dizer “com grande probabilidade”? Baseia-se em quê? Convicções religiosas? E só agora é que descobriram que o material estava marcado para abate? Naqueles paióis não estava, antes de Costa regressar de férias, o material mais sensível? E como sabem que aquilo não é para actividade terrorista ou que não há associação a grupos terroristas? E cá dentro ou fora do país? E, se não for, será para quê? Para as festas de S. Miguel, nos finais de Setembro? Não aumentava os riscos? Então iria baixá-los? Porquê? E quantos eram? Ninguém vê a imbecilidade da coisa?

 António Costa esteve reunido esta terça-feira com os chefes dos principais ramos das Forças Armadas Portuguesas e no final, reforçou a sua confiança nas Forças Armadas e no ministro da Defesa, que diz terem agido apropriadamente.

 Continuo a pensar que deveria ter havido um alerta geral imediato, barreiras nas estradas e operações diversas, mas provavelmente eu não percebo nada sobre o que será “apropriadamente” numa situação destas.

 António Costa disse ainda que, logo na resposta ao assalto aos paióis de Tancos, foi informado pela secretária-geral para a Segurança Interna que o material roubado não representaria qualquer risco acrescido para a segurança interna, algo que soube ainda antes de ir de férias.

 Gosto desta insistência nos conhecimentos obtidos “antes de ir de férias”, que são dados depois de vir de férias. Nada como umas boas férias. Também quero.

 “Logo depois de ter desaparecido esse material foram acionados os mecanismos próprios de segurança interna, designadamente a reunião da unidade de coordenação anti terrorista, com a participação do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, onde foi feita uma primeira avaliação, e onde foi verificado, com grande probabilidade, que este acontecimento não teria qualquer impacto no risco da segurança interna e designadamente associação a qualquer tipo de atividade terrorista nacional ou internacional.

 O mecanismo próprio de segurança é a reunião da unidade de coordenação anti terrorista?!?... Para discutir o quê, se de nada sabiam? E em que factos se terão baseado nessa “primeira avaliação” para verificar, “com grande probabilidade, que este acontecimento não teria qualquer impacto no risco da segurança interna e designadamente associação a qualquer tipo de atividade terrorista nacional ou internacional?!? Como sabem? Verificaram o quê e como? Com base em quê? Então roubaram aquele material para quê? E, não tendo impacto na segurança interna (a gente vive sossegada com os paióis do exército a serem roubados com enorme facilidade), por motivos que desconhecemos, também não terá impacto na segurança de outros Estados?

 Essa garantia foi-me, aliás, transmitida diretamente pela senhora secretária-geral de Segurança Interna, Helena Fazenda, com quem tive contacto ainda antes de ter interrompido o exercício de funções para gozo de férias”, disse.

 “Garantia”?!?... Que garantia?!? “Garantia” com “grande probabilidade”?!?... Isto é garantia?!?... Mas estará tudo doido? Isto não é “gozo de férias”, isto é gozar com o pagode!

António Costa foi ainda questionado pelos jornalistas se o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, tem condições para continuar a exercer funções como parte do Governo, com o primeiro-ministro a garantir que este tem a confiança do Governo.
“O que é essencial é que o senhor ministro da Defesa tem toda a confiança do primeiro-ministro para o exercício das suas funções, e exerceu as suas funções como é função do ministro da Defesa”, disse.
O primeiro-ministro estendeu ainda a sua confiança à estrutura de comando das Forças Armadas portuguesas, dizendo que já foram tomadas medidas “que permitirão reforçar a segurança e garantir a plena operacionalidade das nossas forças armadas”, adiantou.
O Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, Pina Monteiro, também fez uma análise semelhante, dizendo que o material mais perigoso, na verdade não deve funcionar porque estava marcado para abate.

 “Não deve funcionar”?!? Não se sabe se funciona ou não?!? O CEMGFA não sabe o que tem em casa? Não sabe o que tem à sua guarda? Não era o material mais sensível, ainda há menos de uma semana (enquanto Costa gozava férias)?!? E nós devemos ter confiança nisto e ficarmos sossegados?

Os lança-granadas foguetes que foram roubados provavelmente não terão possibilidade funcionar com eficácia, porque estavam selecionados para serem abatidos. O Exército avaliou em detalhe e esse, que é talvez o que mais significado tem em termos de potencial de perigo, não tem a relevância que provavelmente quem os levou achou que poderá ter”, disse Pina Monteiro.

 “provavelmente não terão possibilidade funcionar com eficácia, porque estavam selecionados para serem abatidos”?!?... (mantive a vírgula erradamente colocada)
“Provavelmente não terão”?!? “Com eficácia”?!? São estas as “garantias” que descansaram Costa?!?

 Depois de explicar que o material roubado tem um custo avaliado em 34 mil euros, o responsável disse que o roubo foi um “soco no estômago” das Forças Armadas e prometeu medidas.
(a relevância do valor não se consegue explicar e não vou perder tempo com a coisa)

 “Depois de termos levado, passo a expressão, um soco no estômago, quero dizer que os chefes militares levantaram logo a cabeça. Face a isso, há lições a tirar e vão ser tiradas. Há medidas que vão ser tomadas a curto e médio prazo, não me peçam para dizer que medidas de segurança são, porque não vamos facilitar quem possa ter intenções semelhantes [às de quem roubou o material em Tancos]”, disse o responsável.
“A avaliação que é feita pelos chefes dos ramos, e por mim próprio, é que não caímos. Estamos direitos e estamos prontos para continuar a garantir a confiança dos portugueses nas forças armadas”, disse.

Não me interessa a cabeça nem o estômago dos militares que os meus impostos pagam. Interessa-me o sentimento de segurança que os portugueses esperavam, e se exigia, e, agora, no caso do meu texto, a comunicação social. A comunicação social está sempre a chorar-se porque ninguém a paga, ninguém a compra, ninguém a quer. Escolhi a notícia do Observador porque o leio, sigo, gosto, admiro e critico e porque, com alguma infelicidade, reparei não estar muito diferente do que vejo e leio em outros órgãos de comunicação social. Eu não sou jornalista, tive uma breve disciplina no Liceu, mas ninguém se interroga sobre as questões que levantei? Passam-se as notícias assim? São meros papagaios do que se pretende transmitir? E pretendem ser comprados porquê? Eu compro por bom dinheiro um bom pastel de nata, um excelente pastel de Chaves, uma bela bola de carne ou um cremoso queijo da serra, um saboroso arroz de polvo vitela, um leitãozinho estaladiço, Savora original em frasco de vidro e uma sanduíche de maravilhoso rosbife. Que razão teria eu para gastar o pouco dinheiro que me resta depois dos impostos em má comunicação social? A comunicação social não se interroga sobre isso? Não se interroga sobre isto que me perguntei, um mero observador, sobre factos tão importantes? E quer ser comprada para quê? – Para ter um papagaio bastava-me comprar um e um pouco de alpista.

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