quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Oposição Precisa De Um Tradutor Para Cavaco

Artigo de Ricardo Costa
 
Cavaco Silva fez um discurso que agradou ao governo? Sim. Optou deliberadamente por não criticar o executivo de Passos Coelho? Claro que sim. Centrou as críticas económicas e orçamentais na Europa? Sem dúvida. Deixou sérias críticas a várias opções da troika? Foi evidente.
Estas foram a as principais opções do discurso que o Presidente da República fez hoje, mas, pelos vistos, a oposição ficou espantada com o que disse sobre eleições antecipadas. Penso que foi o Alfredo Barroso que disse há uns tempos que este era o Presidente mais previsível de todos os tempos. Não concordo totalmente com a ideia, mas há, de facto, muitos temas em que o actual Presidente é bastante previsível.
Um desses temas é a absoluta falta de vontade de convocar eleições antecipadas. Outro é o repúdio (ou mesmo medo) de promover um governo de iniciativa presidencial. Podemos discutir se Cavaco Silva tem ou não razão, se está à altura de um momento tão grave, se tem coragem de enfrentar os problemas, se sabe ler devidamente os poderes e os deveres presidenciais. Podemos fazer isso tudo, mas temos, antes disso, de tentar perceber como pensa e o que pensa o Presidente.
Simplificando, o que o Presidente pensa sobre a situação política é simples:
a) existe uma maioria parlamentar;
b) essa maioria apoia o governo;
c) enquanto essa maioria existir o governo deve continuar em funções;
d) se essa maioria se desfizer, não vai haver um governo de iniciativa presidencial;
e) nesse caso, mas apenas nesse caso, o Presidente convocará eleições;
f) Ainda nesse caso, o Presidente não dará posse a um governo que não seja maioritário, obrigando a um acordo entre o PS e o PSD (pelo menos);
g) O Presidente espera que esta situação só se coloque em 2015; h) até essa data, o actual governo está obrigado a governar;
i) o PS não deve afastar-se demasiado do governo porque, o mais tardar em 2015, estará no governo com o PSD.
É isto o que pensa o Presidente. Pode-se concordar ou não. Mas só não percebe isto quem não quer.


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