Ninguém de boa saúde mental se compraz com a morte de um homem; menos de um homem com 58 anos que percorreu um calvário de agonia. Mas ninguém de bom juízo santifica um homem só porque faleceu.
O respeito devido à morte de Chávez reconduz-nos sempre à ideia da efemeridade da vida, da irracionalidade da ambição pessoal e do mal que, voluntaria ou involuntariamente provocamos nos outros. E o general que foi golpista e esteve preso e que, com outro um golpe, se manteve no poder até à morte, está longe de ser um exemplo político, por muito que dele gostem.
É por isso que admiro - e continuo a admirar - a popularidade que Hugo Chávez sempre teve em Portugal. Apesar da forma muito duvidosa como tratou setores, senão quase toda, a comunidade portuguesa; apesar do modo não democrático ou mesmo antidemocrático de governar, mudando a Constituição para se eternizar como Presidente, com derivas que o levaram a imiscuir-se na política de países vizinhos (levando até um alerta de Lula); apesar do modo provocatório e ditatorial como tratava a comunicação social (a hora do presidente era uma missa semanal, pelo menos, obrigatoriamente transmitida), nunca teve uma palavra de repúdio por parte das instituições portuguesas. Pelo contrário, fosse do seu émulo Alberto João Jardim e do PSD, fosse de Sócrates e do PS, fosse do PCP ou do Bloco, todos o elogiavam.
Posso estar a ser injusto, e se estou peço desculpa. Mas, desde já adianto que tenho a mesma reação no que toca a cubanos, angolanos, chineses, sauditas (para não falar das recém-derrubadas ditaduras do Norte de África), bem como a todos os dirigentes que têm a liberdade e a democracia como conceito meramente de fachada (eu sei que me vão dizer que Chávez, como outros ganharam eleições, mas recordo que pelos mesmos parâmetros, Salazar também as ganhou, assim como tantos outros ditadores). Também sei que me vão dizer que a democracia ocidental não pode universalizar-se (embora a liberdade de comércio e o capitalismo mais selvagem se tenha mundializado, esses dirigentes gostam de evocar razões culturais para não ceder na liberdade política).
Talvez o problema, efetivamente, seja meu. Mas chego a pensar que cá por Portugal de ditador e de louco... muita gente tem um pouco.
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