sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Surdez

Uma característica do nosso sistema partidário é a surdez selectiva. Passo a explicar – quando o PS está no poder os seus deputados fazem ouvidos de mercador a tudo quanto são dislates governativos ou de empresas públicas nas mais diversas áreas. Uma vez no Governo o PS tem tendência a deixar que todas as asneiras sejam tapadas pelo grande sol que nos ilumina. Claro que quando o PS passa à oposição todos os movimentos governamentais são suspeitos e as trivialidades anteriores passam a perigosas actuações.
Evidentemente que o inverso também se aplica ao PSD. Infelizmente os dois maiores partidos não gostam de reconhecer erros nem de reflectir sobre eles e esse é um dos grandes problemas do nosso sistema político. Vivemos na permanente luta entre o mal e o bem, que vão variando conforme os resultados eleitorais – o mal de ontem é o bem de hoje e por aí adiante. O sistema é esquizofrénico e o resultado está dramaticamente à vista.
Mesmo em áreas como a Cultura, que devia ser exemplar, o estrago é total - basta ler as extraordinárias intervenções actuais da senhora deputada Inês de Medeiros para me preocupar sobre o que ela andou a conter, provavelmente à custa de calmantes, durante os anos em que o PS desgovernou a pasta da Cultura, num metódico trabalho de criação do caos. Cá para mim alguém deve ter explicado à ex-ministra Isabel Pires de Lima que o caos podia potenciar a criatividade – e vai daí ela atirou-se afincadamente à “caotização” da Cultura, bem seguida aliás pelos seus sucessores na era socrática. O que eu acho curioso é que nessa época a deputada Medeiros tenha andado tão caladinha e agora esteja tão linguareira.

(In "A Esquina do Rio", Jornal de Negócios, à sexta)

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